terça-feira, 24 de maio de 2011

Estrelas que sabem sorrir

Todos me atravessaram com aquele olhar desconfiado e ríspido, de canto-de-olho. Me flecharam com olhares de dó e de desconfiança. Como se o que eu estava fazendo fosse um ato de loucura e desespero. Estavam errados! Era um pouco pior. Isso só porque eu estava voltando pra você. Só porque você no último inverno me deixou. Me deixou não, isso seria piedoso. Você me abandonou. Continuou vivendo sob as minhas vistas. Como se nada entre nós ainda estivesse aceso. Como se a nossa brasa, já tivesse esfriado e virado cinzas ao vento. Ou talvez fingindo que era assim, também. Trocamos entre nós, durante esse tempo de exílio, olhares-francos e textos inacabados. Nunca largamos de nós. Mas não havia mais nada. Só o vestígio da traidora necessidade de compartilhar a vida com o outro. E "vivemos" assim até alguns dias atrás. Quando eu pude te ver novamente. E estávamos mais uma vez ali, frente a frente. Olhando e relembrando os céus dos dias velhos e passados. Aquela nossa estrela ainda estava lá. Não sei como mas em alguns minutos, sem que eu percebesse já estava com a mão amassada na sua. Parecia um dos dias do nosso antigo inverno. Um daqueles de congelar os dedos dos pés. Mas a lua estava tão linda! Brilhante e inteira. Você me pediu pra recitar uma frase do pequeno príncipe. Fiquei totalmente emudecida, procurando a perfeita, a cabível ao memorável-momento. "Tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo..". Fui interrompida por sua boca gelada já na minha. Quando aconteceu essa última oração entre nós. Você coube no meu coração novamente. Meu amor. Minha vida-de-amor. Como tinha saudade de ti e da tua pele alva. Dos teus olhares fixos, assim de tão perto. Tinha saudade até da nossa imagem que eu imaginava ver de cima. Nós dois, deitados na calçada, a luz do luar, contando estrelas e cantando elogios do fundo do peito. Uma pintura de poesia. Com cores cujos nomes são sentimentos. E as pinceladas são beijos doces. Eu estava entorpecida. Totalmente submersa naquela maré de emoções. Esquecida das noites em claro e dos lenços usados. Da sua façanha que recebi de presente. Do quanto você havia me enganado e magoado. Mas naqueles momentos nada disso parecia fazer sentido. Os suspiros magoados de antes haviam se esvaído.  Eu pertencia a você de novo. E te sentia como meu também. E para mim isso bastava.. por hora. Ou se conseguisse me manter vidrada naquela lembrança.. pra sempre. E o Medo?! Medo de você desistir de mim novamente. De me assassinar a sangue frio, mais uma vez. Mas e a Felicidade? Mas e o Perdão? A você talvez, esses, não sejam merecidos. Mas a mim eles são inerentes quando se trata de você. Talvez, porque eu sou assim mesmo. Uma incógnita. Não no sentido poético! No literal mesmo. Algo desconhecido. Variável. Montável. Pode até ser isso que faça com que não consigamos nos encaixar. Nos caber em um nós. Aí entra você. Um fraco-amante que não se dispõe das armas e luta por viver nosso amor. Mas como eu podia pensar nessas fatalidades em um momento tão vivo quanto aquele? Ainda mais eu! Uma mortal-sentimentalista. Poetisa do amor. Cantora do fogo que arde sem se ver. Me entreguei totalmente ao esquecimento das consequências. Das previsíveis consequências. Das possíveis - e até prováveis - lágrimas futuras. Desde este milagroso e transfigurador dia, voltamos ao nosso antigo novo-amor. Aos lençóis macios e bagunçados. E aos memoráveis Hollywoods vermelhos..

sábado, 14 de maio de 2011

Assassinato

Escrevo-te, pois és tu, leitor, o único que queres me ouvir. Ou tu és como os outros? Os que fingem me ouvir? És como aqueles que vivem das minhas desgraças e menosprezam meus sentimentos? Estas, tu, mortal como eu, disposto a ouvir o meu choro-sangrento e sentir, pelo menos o que eu quero te passar? Estás mesmo preparado pra morrer uma morte que já me assassinou? E preste atenção, pois escolhi essa morte a dedo! Na verdade a corpo todo.  Eu conheci a minha assassina no céu. Em meio a um céu que despejava estrelas e dissipava as nuvens, transformando-as em simples borrões cor-de-gelo. Estávamos em um vôo calmo de volta para Brasília. Eu já tinha entrado naquele avião, como eu entro em todos os outros, com muito medo. Com medo e com um antídoto para ele. Um cantil de Gim Tônica. Quando eu entrei você já estava lá. Embrulhada em um cachecol vermelho e com os olhos meio assustados. Mais parecia uma criança que tinha sido roubada o ursinho-preferido. Me sentei do seu lado. Você nem me notou - não é muito diferente de hoje - continuou com o rosto entre as mãos. Decolamos. Eu peguei meu amigo-cantil e dei duas boas goladas. Quando você me segurou a mão e pediu alguns goles-de-coragem também. Conversamos aquela noite sobre os nossos medos e temores. E anos depois ainda continuamos falando deles. Alguns diferentes, outros idênticos aos daquele celeste-dia. Mas  mais culpado desse crime, foi o tempo. O tempo devorou nossas personalidades, o tempo nos transformou em máquinas (co)mandadas por ele. Passamos meses em estágio de êxtase. Em um frenesí cego de paixão. Mas o tempo transformou o eu e você em um nós. Éramos nós! Com orgulho no começo e com medo no fim. Medo de nunca mais conseguir ter um eu de novo. Medo de ter virado escravo do amor do outro. E nem sempre é "querer estar preso por vontade" (Camões). Conosco era necessidade. Necessidade de beber do mesmo cálice do outro. Da vida do outro. Nesta etapa já estávamos os dois definhando, morrendo a cada dia de migalhas-da-rotina. Até que você percebeu isso. Foi quando tudo começou a desmoronar. Lágrimas, pratos, alianças, roupas, tudo ia parar no chão. Despedaçando os nossos laços. Sei que não foi só você. Que foi o nós. Mas você foi quem teve coragem de se transformar em eu. Você que ia embora em uma madrugada e aparecia de manhã na minha porta, chorando e com a saudade-perturbadora de sempre. E eu sempre te aceitei. Porque em mim começava a nascer uma tristeza-mortal cada vez que você ia embora. Daquelas que flutuam até nas mais profundas bebedeiras. Mas já não dava mais. As nossas idas e vindas tinham se tornado mais uma parte da nossa rotina. E em uma noite, como aquela que nos conhecemos, você foi de novo. Em mais uma tentativa de separar o nosso nós e transformá-los em dois defeituosos-eus. E desde aquele dia você não voltou mais. E nem saber onde você está eu sei para tentar voltar pra você. Não porque eu ache que vai mudar, mas sim porque eu não tenho aguentado. Como disse, eu tenho sido assassinado, a cada dia que coloco os pés pra fora da minha cama-fria e sei que não vou te achar mais. E dói ainda mais saber que você não tem morrido também. Que a faca-afiada da saudade não tem te feito nem mais arranhões. Você não tem nem mais ligado e desligado em seguida. Deve ter me esquecido de vez. Feliz de ti. Porque a mim tem atingido apenas a tristeza. Eu continuo sendo o condenado. Preso no vazio que minha vida se transformou. Arrancado de mim, pelo amputo que sofri de ti! 

terça-feira, 3 de maio de 2011

contos.

a mim tem preferência sapos sinceros, a príncipes enganadores..

Very Gold

"Nos demais o coração tem moradia certa, fica aqui, bem no meio do peito. Mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração!" V.M

 
"O essencial é invisível aos olhos!" Saint-Exúpery