sexta-feira, 29 de julho de 2011

Muito Pouco

Olá meu amor, bom dia. Bom dia é um pouco hipócrita da minha parte. Acho que cabe melhor apenas um Olá mesmo. Então, Olá. Como sempre te digo, prefiro ser pontual, fácil de decifrar para vocês, homens, que não tem muita autonomia e humildade para o entendimento de certas coisas. Pretendo ser curta e grossa - se é que isso é possível -. Eu tenho tanto pra te falar, tanto pra me desculpar, tanto pra me lamentar, tanto, tanto, tanto! O muito não está achando mais espaço dentro de mim. Preciso expulsá-lo aos poucos. E aqui deixo um pouco do meu muito. Um pouco do muito sentimento que tenho por você. Mas que também preciso expulsar de mim. Me dói ver que você não foi pra sempre. Nem chegou perto. Mas a culpa não é sua, meu amor, eu é que não consigo mais ficar parada vendo minha vida passar. Eu preciso andar! Se puder, até correr. Recuperar os anos que já perdi. Não que você tenha sido uma perca de tempo. Escrevemos um livro de aprendizado e de prazeres juntos! Vivemos confrontos e pedidos-de-paz. Atravessamos quase quatro primaveras. E se hoje quero seguir em frente é por você também. Sei que te prendo. Prendo sua vida. Sou totalmente dependente de ti, mas sei que isso é errado. Você antes de mim tinha amigos, família, emprego e etc. E hoje eu te tomo o tempo, o amor, a felicidade e muitas lágrimas. Não me importo se o mundo acha normal que o amor seja quase um ladrão de vidas, almas e corações. Eu não quero roubar. Sempre te falei que este pecado era abominável. E eu estou cansada de cometer e sofrer dele. Quero te ver livre! Livre de mim e de outras. Não se case mais, meu amor. Sei muito bem que você não está preparado para selar este contrato. E eu também não. Pretendo não me deixar ser arrastada por estas histórias de amores. Não se assuste com a minha fuga. Você já devia imaginar tudo isso... Talvez no próximo verão eu te ligue. Se estiver preparado, atenda. Isto é um pré-requisito.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Alícia

Era uma mulher com nome de meretriz. As vezes nem mulher parecia. Aparentava mais ser uma adolescente com a puberdade gritando pelo seu corpo. Encantador! Parecia mais uma ninfa, seduzindo os homens com a sua graciosidade e falsa-inocência. Filha da natureza. Tinha um cabelo negro que quando ela ficava nua, o contraste com a sua pele alva era sensualmente chocante. Olhos brilhantes, sardas espalhas pelas bochechas  e uma boca fina desenhada por Vênus. Uma jovem entregue aos impulsos do amor. Temperamental, sentimentalista e um pouco esquizofrênica. Mas era tentadoramente bela. Me fazia tão bem. Trazia vida ao meus quarenta anos. Não tenho a minima noção do porque ela escolheu me amar. Não passava de um homem mal resolvido como todos os outros. Com problemas de infância, orgulhos e traumas. - Sempre escutei isso dela -. Mas nos amávamos. Dizia querer envelhecer comigo. Começamos a mobiliar uma casa e construir um ninho de respeito e amizade. Um gosto muito excêntrico decorou nossa vida, papel de parede branco com flores azuis, um sofá bege e um vaso que me pediu para sempre encher com flores que representassem o nosso estado de espírito. Jacintos da noite, rosas, margaridas, narcisos e muitas outras já passaram por aquele vaso. Vivemos juntos por anos... Viajando, pagando empréstimos, comprando cortinas e tapetes novos, chorando mágoas e beijando a vida. Começou me pedindo por mais amor, mais demonstração-de-amor e com o passar do tempo foi me exigindo que eu parasse de fumar, colocasse uma aliança no seu dedo e até que tivéssemos um filho. Foi me cobrando mudanças drásticas em aspectos que já tinham se encrustado em mim. É difícil de se desfazer de personalidade e temores quando se tem quase meia centena de anos vividos nas costas, nas mãos e na cabeça! Eu amava você muito, só não conseguia passar por cima de mim para isso. Era árduo, complicado e doloroso. Sei disso, porque tentei por várias vezes. E estou disposto a tentar por mais milhares de vezes. Mesmo que eu morra tentando. Mas ela veio me dizendo que já tinha perdido muito tempo nessas tentativas de mudança no meu caráter. Que estava com receio de perder a boa idade lutando uma guerra já perdida a anos! Preferiria ter sido mandado para o exílio, desterrado da minha pátria, isolado de minha família e amigos do que ter escutado isso. Como chegou a isso tudo, não tenho a minima noção. Apenas em um dia ensolarado como qualquer outro,  parou de querer tentar a vida comigo. Espero que pelo menos tenha sofrido para isso, que tenha pensado por meses antes de tomar esta decisão. Quase um rompimento de contrato. Uma traidora de sangue. Mas se depois de todo esse pesar ainda quis se arrancar de mim, desejo que tenha sido a decisão certa. Para nós! Que tenha sido porque você conseguiu chegar a conclusões que eu não consegui chegar. Pode ser porque o sufocar dos anos tenham me cegado perante algumas. Ainda não consegui começar a prática do seu esquecimento, acho até que seja improvável, por eu não ter mais tantos anos de vida pela frente. E esquecer quem amou é algo que leva muito tempo. Décadas por vezes! Mas eu tenho um estoque enorme de elixires de esquecimento e ilusão. Utilizarei dele por ora. Talvez ele me cegue um pouco mais. Seria bom não ver tanta tristeza no mundo...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Terra dos inversos

Tem anos que tenho perambulado por esta terra. Onde tem desde de geleiras a cactos. De natureza exuberante e por vezes desértica. Terra com vida. Aqui habitam seres de sangue frio e alguns de sangue quente. Tenho visto sujos fatos e limpas mascaras de uns tipos incomuns. Alguns matam, desmatam, negam e se negam, outros são intensos demais, no amar e no repudiar. Convivemos com uma organização capitalista em nossa sociedade, contribuintes e ladrões se esbarrando em todas as esquinas e sessões de eleição. Aproveitados e aproveitadores. Andando pelas ruas e vielas podemos avistar milhares de tipos e biotipos. Pacificadores, guerrilheiros, puritanos e rebeldes. Gente que muito se veste e outros que gostam da nudez. Poucos escrevem leis, a maioria não sabe escrever nem o próprio nome. Tímidos e sem-vergonhas. Ninfomaníacos e assexuados. Também não quero esquecer daqueles que ainda brilham a luz na escuridão. Que não desejam mal a quase ninguém. Dos que ainda querem viver a vida ao invés de roubá-la. Aqui, a terceira lei de Newton as vezes falha e por vezes, nem existe. Principalmente quando as ações são do tipo top to down. Também se mostra falha, aos olhos humanos, quando se trata da essencial ação de amar. Desta, participam amantes, amadores, amados, traídos, fracassados e vencedores. O amor é colocado pelos seres humanos como uma prioritária questão a ser respondida, desvendada, transfigurada, e por alguns radicais, até mesmo amarrada, amordaçada e trancafiada  em algum lugar que não possa mais trazer grandes problemas. Todos que por aqui andam, seguem um relógio que quantifica quantas horas ainda se tem para viver. Todos cronometram o tempo que falta para voltarem ao lugar de onde vieram. Essa é outra questão problematizada neste planeta. Ninguém sabe afirmar com sentencial   certeza suas origens, e muito menos, seus destinatários. Uns confiam em entidades divinas que moram no azul do céu, outras que já viveram por aqui anos atras mas não se lembram do que aconteceu. Cada um se entregando a prática mais cabível a suas ideias. Seres que tem medo de que sua existência caia no esquecimento de todos. Fazendo com que sejam notados, avaliados e categorizados, para que seja fácil o acesso, por outros, às suas vivências e memórias, quando deixarem de se materializar nesta terra. Nesses meus dias de existência tenho transformado a mim, e ao meio. Deixando vestígios do meu legado por este planeta. Esperando pelo dia em que não terei nada mais que aprender aqui e virarei um outro ser. Continuo aproveitando esses dias de sol e os humanos que eu amo. O que pretendo deixar aqui são apenas ideias boas, mas por vezes, a convivência nos amassa e engana, transgredindo nossas ações e deturpando nossos pensamentos. Deste mundo também pretendo levar bons sentimentos, aprendizados e poesias decoradas. Pretendo permanecer aqui por mais algum tempo. Brindando a vida e louvado a natureza.

Very Gold

"Nos demais o coração tem moradia certa, fica aqui, bem no meio do peito. Mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração!" V.M

 
"O essencial é invisível aos olhos!" Saint-Exúpery