terça-feira, 27 de setembro de 2011

Inception

São quatro da manhã. Mal começou o dia e eu já me sinto sufocada. Na realidade, mal começou o mês. O motivo do sufoco vai muito além dos cobertores que estão por cima dos meus pés até minha cabeça, transformando minha cama em uma bolha de calor e proteção. Proteção contra mim mesma, que já não sou mais segura para habitar. Estou apodrecendo com as minhas mentiras e definhando com as minhas verdades. Envergonhada de exercer esse falso-domínio sobre mim. A verdade é que sou dominada por instintos. Alguns raivosos e assassinos e outros pacíficos e protetores. Pois eu sou da arte, e nesta,  subordina-se primeiro ao próprio eu, a sensibilidade, desejos e repúdios, para só em um segundo momento   permitir que o racional possa penetrar em nossa consciência. Mas nos dias de hoje esses impulsos artísticos  não são valorizados e muito menos bem vistos, e tenho tentado controla-los, mas tem sido em vão. Tento me amordaçar, acorrentar e algemar a  princípios morais sufocantes que vão contra o respirar da minha liberdade! Costumam me atacar em todos os momentos em que me entrego a minha solidão de pensamentos e sonhos, quando fico imaginando minha boa vida livre de amarras. Não sei nem se seria tão bom quanto sonho, nem mesmo se é possível realizar tantas insanidades quanto imagino.
Além de todos esses sentimentos de insatisfação tenho sido devastada por uma ideia que em minha mente foi plantada a alguns meses. Um súbito desejo proibido, absurdo e egoísta. E para começar toda essa confusão mental só bastaram alguns olhares. Fui fraca, confesso! Mas o que posso fazer se já estou inundada de toda essa insegurança sobre mim mesma? Não consigo me firmar mais nas minhas decisões, afinal não sei nem quem sou, quem dirá, saber o caminho que quero percorrer. Tenho procurado respostas em tudo que olho e infelizmente quase sempre acho que as encontrei. Podem até ser respostas mas não tem sido as corretas para as minhas perguntas. E em uma dessas buscas por mim, encontrei ele. Um rapaz jovem com olhos de um negrume intenso e brilhoso, que evocaram do fundo de minha consciência os meus inescrupulosos impulsos sentimentais. E sabe como acontece né? Em uma noite você está tomando um martíni em um bar e na outra você está preparando café da manhã vestida na camisa dele. Comigo, que naquele inverno já me encontrava diante de todo esse turbilhão de emoções que aguçam todos os sentidos de minh'alma, foi na mesma noite. Te conheci naquele bar da Lapa e você foi só me (en)cantando ao som do Rei, na boa-voz de um cantor desconhecido. Foi me levando pelas afinidades, coincidências e acasos. Com essa hipnose, não consigo nem lembrar de como pulamos do beijo-no-rosto de cumprimento para os beijos-desesperados no elevador do seu prédio. Foi fatal. Passei a dedicar minha insensatez a você. A minha fraqueza então, nem se fala. Até aqui, tudo já não estava bem, pois seguindo a este novo comandante que nem sempre dava ordens  que podiam ser avaliadas como algo positivo para todos, eu estava suscetível a todo o tipo de julgamento e condenação. Acontece que no meu peito já estava acomodado um outro homem, o amor. Único, pois era verdadeiro. Mas às almas calorosas nem sempre só o Amor satisfaz a carne, a Paixão é sempre bem vinda a nós que temos frio no Sol. A noite, aqui, na minha cama, na minha bolha, essas sentenças são ainda mais agressivas, se dividindo e subdividindo em uma série de questionamentos, que ficam gritando nos meus ouvidos e ardendo em meu coração. Não consigo me desviar deste impulso de viver o novo e incandescente. Mas reconheço que estou "errada". Mas também me pergunto: "Errada" aos olhos de quem? Aos olhos da sociedade que criou um molde para relacionamentos e instituições familiares? Aos olhos de algum 'deus'? Aos olhos de meu amor?! No entanto, e os meus olhos? Devem permanecer no escuro diante de tudo? E além deles tenho também que conter as batidas do meu coração?
Quantas exigências e leis somos obrigados a cumprir e seguir, por vezes, a força. Na maioria das vezes, na verdade. São destas que estou saturada. Se devo apenas consentir aos mandos e desmandos das vozes externas a minha mente, sem balbuciar ou sussurrar qualquer objeção, declaro ser indesejada a minha presença-perigosa na Terra, pois se aqui só se pode viver alienado a conceitos e princípios que são tomados como modelos ideais de vida pacifica e monótona, sem nem a maioria conhecer as origens destes pensamentos moralistas, e se são realmente virtuosas ou não. Me recuso a entregar o borbulhar do meu espírito a essas normas-arbitrarias que são tão imperfeitas quanto quem as criou. Prefiro permanecer aqui. Sendo queimada pelos dardos do sol que insistem em penetrar a janela da minha alma. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Pássaros

Em mais uma tediosa e nauseante segunda-feira do mês das flores, estava sentada a conversar com dois quero-quero e três sábias. Enquanto eu tagarelava minhas andanças e arrependimentos, também compartilhava um sanduíche-ruim com todos eles. Joguei um pedaço para cada um e me coloquei a observar a reação de um a um. Três deles começaram a comer seu próprio pedaço e apenas se concentraram nele, os outros dois viram os seus pedaços mas foram atras dos outros para lutar pela comida deles, não satisfeitos com os seus pedaços sem graça, começaram a atacar para roubar as migalhas do pão dos outros pássaros. Fiquei analisando toda s aquelas ações e reações destes pequenos animais. Notei que os pássaros que tinham sido ferrenhamente atacados, lutaram por poucos segundos e voaram para uma outra parte da grama e lá começaram a procurar pela terra alguns insetos, um deles encontrou uma, presumivelmente, saborosa formiga no chão, deu algumas bicadas envolta de onde ela estava para assustar e deixá-la sem saída e então em um golpe-fatal abocanhou-a por inteiro e engoliu. O outro pássaro, o único que até aquele momento não havia comido direito, deu de cara com aquelas migalhas que haviam sido abandonadas pelos pássaros que tinham lhe atacado e então satisfatoriamente desmembrou todo aquele misero pedaço de pão e o comeu, pedacinho por pedacinho. Impressionada com aqueles pássaros, comecei a me entregar ao meu turbilhão de pensamentos e emoções. Me coloquei a pensar o quanto aquelas ações e reações eram semelhantes às dos humanos, o como todos nós agíamos instintivamente. Os cinco pássaros estavam ali para aproveitar daquele alimento que facilmente estava sendo oferecido a eles. Os três que comeram com satisfação e alegria tudo aquilo logo foram interrompidos pelo sentimento de avareza e maldade dos outros dois pássaros, que não tinham se contentado com os pedaços que lhes foram jogados, e resolveram atacar os outros e com o uso da força bruta e da ignorância se apossaram das migalhas deles; os pássaros que ficaram com fome procuraram um caminho auxiliar, uma forma de sobreviver àquela disputa pela vida; um deles partiu para o mais fraco e vulnerável e o devorou sem escrúpulo ou piedade alguma, e o outro se viu desesperado, sem nada para comer, e com muita sorte encontrou o tesouro que havia sido desdenhado e ignorado pelos outros pássaros e com ele se alegrou. 
Me senti meio tonta envolta daquilo tudo. Como éramos tão semelhantes?! Como tão prepotentemente podíamos nos deixar levar por essa falsa-superioridade?! Essa falta de humildade! Será que os outros nunca pararam para observar que nós somos meros seres vivos como qualquer outro, que se adapta e evolui, conforme lhe são impostas barreiras e muros. Talvez essa seja a noção que nos falta para alcançar a redenção da vida humana: igualdade.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Fingimento

Fingimento nunca foi uma opção. Nem deveria. Para ninguém! Qual o intuito de transparecer palavras, ações e sentimentos que não são fidedignos ao que realmente você é?! Só para agradar? Agradar a quem? A si mesmo, ou a todo o resto? Deve ser a todos. Enganadores. Pessoas que não tem a mínima autonomia de si e de suas ações ao ponto de não conseguirem ser quem realmente são. De falar o que querem e agir como querem. Esses são os piores! Que falam as suas verdades só quando já não é mais nosso desejo escutar suas mentiras e fingimentos. Não entendem que as pessoas também se cansam de ter que verificar a veracidade de todo conteúdo que é passado por estes indivíduos. Mais fácil e melhor é julgar tudo como mentira...

Very Gold

"Nos demais o coração tem moradia certa, fica aqui, bem no meio do peito. Mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração!" V.M

 
"O essencial é invisível aos olhos!" Saint-Exúpery