São quatro da manhã. Mal começou o dia e eu já me sinto sufocada. Na realidade, mal começou o mês. O motivo do sufoco vai muito além dos cobertores que estão por cima dos meus pés até minha cabeça, transformando minha cama em uma bolha de calor e proteção. Proteção contra mim mesma, que já não sou mais segura para habitar. Estou apodrecendo com as minhas mentiras e definhando com as minhas verdades. Envergonhada de exercer esse falso-domínio sobre mim. A verdade é que sou dominada por instintos. Alguns raivosos e assassinos e outros pacíficos e protetores. Pois eu sou da arte, e nesta, subordina-se primeiro ao próprio eu, a sensibilidade, desejos e repúdios, para só em um segundo momento permitir que o racional possa penetrar em nossa consciência. Mas nos dias de hoje esses impulsos artísticos não são valorizados e muito menos bem vistos, e tenho tentado controla-los, mas tem sido em vão. Tento me amordaçar, acorrentar e algemar a princípios morais sufocantes que vão contra o respirar da minha liberdade! Costumam me atacar em todos os momentos em que me entrego a minha solidão de pensamentos e sonhos, quando fico imaginando minha boa vida livre de amarras. Não sei nem se seria tão bom quanto sonho, nem mesmo se é possível realizar tantas insanidades quanto imagino.
Além de todos esses sentimentos de insatisfação tenho sido devastada por uma ideia que em minha mente foi plantada a alguns meses. Um súbito desejo proibido, absurdo e egoísta. E para começar toda essa confusão mental só bastaram alguns olhares. Fui fraca, confesso! Mas o que posso fazer se já estou inundada de toda essa insegurança sobre mim mesma? Não consigo me firmar mais nas minhas decisões, afinal não sei nem quem sou, quem dirá, saber o caminho que quero percorrer. Tenho procurado respostas em tudo que olho e infelizmente quase sempre acho que as encontrei. Podem até ser respostas mas não tem sido as corretas para as minhas perguntas. E em uma dessas buscas por mim, encontrei ele. Um rapaz jovem com olhos de um negrume intenso e brilhoso, que evocaram do fundo de minha consciência os meus inescrupulosos impulsos sentimentais. E sabe como acontece né? Em uma noite você está tomando um martíni em um bar e na outra você está preparando café da manhã vestida na camisa dele. Comigo, que naquele inverno já me encontrava diante de todo esse turbilhão de emoções que aguçam todos os sentidos de minh'alma, foi na mesma noite. Te conheci naquele bar da Lapa e você foi só me (en)cantando ao som do Rei, na boa-voz de um cantor desconhecido. Foi me levando pelas afinidades, coincidências e acasos. Com essa hipnose, não consigo nem lembrar de como pulamos do beijo-no-rosto de cumprimento para os beijos-desesperados no elevador do seu prédio. Foi fatal. Passei a dedicar minha insensatez a você. A minha fraqueza então, nem se fala. Até aqui, tudo já não estava bem, pois seguindo a este novo comandante que nem sempre dava ordens que podiam ser avaliadas como algo positivo para todos, eu estava suscetível a todo o tipo de julgamento e condenação. Acontece que no meu peito já estava acomodado um outro homem, o amor. Único, pois era verdadeiro. Mas às almas calorosas nem sempre só o Amor satisfaz a carne, a Paixão é sempre bem vinda a nós que temos frio no Sol. A noite, aqui, na minha cama, na minha bolha, essas sentenças são ainda mais agressivas, se dividindo e subdividindo em uma série de questionamentos, que ficam gritando nos meus ouvidos e ardendo em meu coração. Não consigo me desviar deste impulso de viver o novo e incandescente. Mas reconheço que estou "errada". Mas também me pergunto: "Errada" aos olhos de quem? Aos olhos da sociedade que criou um molde para relacionamentos e instituições familiares? Aos olhos de algum 'deus'? Aos olhos de meu amor?! No entanto, e os meus olhos? Devem permanecer no escuro diante de tudo? E além deles tenho também que conter as batidas do meu coração?
Quantas exigências e leis somos obrigados a cumprir e seguir, por vezes, a força. Na maioria das vezes, na verdade. São destas que estou saturada. Se devo apenas consentir aos mandos e desmandos das vozes externas a minha mente, sem balbuciar ou sussurrar qualquer objeção, declaro ser indesejada a minha presença-perigosa na Terra, pois se aqui só se pode viver alienado a conceitos e princípios que são tomados como modelos ideais de vida pacifica e monótona, sem nem a maioria conhecer as origens destes pensamentos moralistas, e se são realmente virtuosas ou não. Me recuso a entregar o borbulhar do meu espírito a essas normas-arbitrarias que são tão imperfeitas quanto quem as criou. Prefiro permanecer aqui. Sendo queimada pelos dardos do sol que insistem em penetrar a janela da minha alma.
Além de todos esses sentimentos de insatisfação tenho sido devastada por uma ideia que em minha mente foi plantada a alguns meses. Um súbito desejo proibido, absurdo e egoísta. E para começar toda essa confusão mental só bastaram alguns olhares. Fui fraca, confesso! Mas o que posso fazer se já estou inundada de toda essa insegurança sobre mim mesma? Não consigo me firmar mais nas minhas decisões, afinal não sei nem quem sou, quem dirá, saber o caminho que quero percorrer. Tenho procurado respostas em tudo que olho e infelizmente quase sempre acho que as encontrei. Podem até ser respostas mas não tem sido as corretas para as minhas perguntas. E em uma dessas buscas por mim, encontrei ele. Um rapaz jovem com olhos de um negrume intenso e brilhoso, que evocaram do fundo de minha consciência os meus inescrupulosos impulsos sentimentais. E sabe como acontece né? Em uma noite você está tomando um martíni em um bar e na outra você está preparando café da manhã vestida na camisa dele. Comigo, que naquele inverno já me encontrava diante de todo esse turbilhão de emoções que aguçam todos os sentidos de minh'alma, foi na mesma noite. Te conheci naquele bar da Lapa e você foi só me (en)cantando ao som do Rei, na boa-voz de um cantor desconhecido. Foi me levando pelas afinidades, coincidências e acasos. Com essa hipnose, não consigo nem lembrar de como pulamos do beijo-no-rosto de cumprimento para os beijos-desesperados no elevador do seu prédio. Foi fatal. Passei a dedicar minha insensatez a você. A minha fraqueza então, nem se fala. Até aqui, tudo já não estava bem, pois seguindo a este novo comandante que nem sempre dava ordens que podiam ser avaliadas como algo positivo para todos, eu estava suscetível a todo o tipo de julgamento e condenação. Acontece que no meu peito já estava acomodado um outro homem, o amor. Único, pois era verdadeiro. Mas às almas calorosas nem sempre só o Amor satisfaz a carne, a Paixão é sempre bem vinda a nós que temos frio no Sol. A noite, aqui, na minha cama, na minha bolha, essas sentenças são ainda mais agressivas, se dividindo e subdividindo em uma série de questionamentos, que ficam gritando nos meus ouvidos e ardendo em meu coração. Não consigo me desviar deste impulso de viver o novo e incandescente. Mas reconheço que estou "errada". Mas também me pergunto: "Errada" aos olhos de quem? Aos olhos da sociedade que criou um molde para relacionamentos e instituições familiares? Aos olhos de algum 'deus'? Aos olhos de meu amor?! No entanto, e os meus olhos? Devem permanecer no escuro diante de tudo? E além deles tenho também que conter as batidas do meu coração?
Quantas exigências e leis somos obrigados a cumprir e seguir, por vezes, a força. Na maioria das vezes, na verdade. São destas que estou saturada. Se devo apenas consentir aos mandos e desmandos das vozes externas a minha mente, sem balbuciar ou sussurrar qualquer objeção, declaro ser indesejada a minha presença-perigosa na Terra, pois se aqui só se pode viver alienado a conceitos e princípios que são tomados como modelos ideais de vida pacifica e monótona, sem nem a maioria conhecer as origens destes pensamentos moralistas, e se são realmente virtuosas ou não. Me recuso a entregar o borbulhar do meu espírito a essas normas-arbitrarias que são tão imperfeitas quanto quem as criou. Prefiro permanecer aqui. Sendo queimada pelos dardos do sol que insistem em penetrar a janela da minha alma.