terça-feira, 30 de novembro de 2010

Circo

Vivemos em um mundo 
onde a linha que separa
o espetáculo do circo-de-horrores
é tênue demais pra minha fraqueza.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

nostalgia

Queria voltar para o passado.
Onde eu brilhava independente de alguém!
Um passado em que os meus sentimentos
não precisavam se esconder
debaixo do tapete-da-vergonha.
Viver de novo por mim e não por você...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Telefonema

Há quanto tempo não escuto esse som? Esse som que no passado era o motivo das batidas do meu coração, da minha respiração, complexamente, da minha existência. Como tivemos coragem de deixar todo aquele amor - perigoso, apaixonado, divertido e extremo, aquele amor só nosso e de mais ninguém - escapar do nosso controle? Porque fizemos isso? Você havia dito que seria minha para sempre, para todo o sempre e até além dele também e eu te prometi que nada haveria de me tirar da sua vida, nunca. Você era a  mulher com cabelo ruivo e hálito de menta que um dia eu conheci em um bar no Rio de Janeiro, você era tão jovem, elétrica e extrema. Te vi a primeira vez e você já estava brigando com alguém e sem que eu notasse eu já estava brigando por você, por nós. Dali pra frente foi sempre nós, éramos nós na sua cama, na minha cama, no meu prédio, na sua casa, na sacada, na escada, não importava o lugar, tínhamos nos tornado um só! Saíamos, bebíamos, dançávamos, mas no final da noite era sempre igual, eu e você. Mas você era de lua, começou a se sentir sufocada, sem espaço para mudar de fase, e assim começaram as mentiras, os fins-de-noite separados, as marcas de batom que não eram suas, os perfumes que não eram meus, as suas roupas que foram sumindo do meu guarda-roupa, os lençóis sem seu cheiro-natural-indescritível e sem que nós notássemos, já éramos duas pessoas novamente. E tudo acabou. E no final das contas, cartas e telefonemas, estávamos um sem o outro, incompletos. Você deve ter seguido sua vida, adquirido bens e personalidades, talvez você nem se pareça mais com a mulher que pra sempre será minha. Não porque te tenho em minhas mãos, mas sim, porque as lembranças - as perfeitas lembranças - que tenho de você serão pro resto da minha vida somente minhas. Egoísmo? Não! Forma de sobrevivência. Não te culpo por ter seguido sua vida, nunca faria isso, eu também tentei seguir a minha, mas fracassei. Eu mesmo escrevi e assinei o meu atestado-encharcado-de-lágrimas de que sem você a vida não era vida.
Oito Dígitos. Alguns segundos em espera. Uma voz. Não qualquer voz! Era a sua voz.
Oi - eu disse.
Ah! É você. Estava pensando em nós agorinha. 
Igual tenho feito desde sempre... - você disse.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

(des)entendimento



Ninguém nunca notou que eu sou des-entendida da vida?
Não perceberam ainda que eu só sei sonhar.?

sábado, 13 de novembro de 2010

Me encontro:

Costurando mentiras em tecidos,
músculos e órgãos
que nem mesmo
são os meus.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Capitú

Eu lembro daquele dia. Aquele pior dia! O dia em que segurei seus dedos com tanta força que quase criei uma ligação corpórea. O dia que já era noite quando você decidiu largar minha mão, me dizer que foi eterno enquanto durou e ir embora com seu olhar e cheiro -- Meu Deus, onde vou encontrar um olhar e um cheiro como o dela? -- foi o que pensei. Eu definia o mundo em dois braços, duas pernas, dois olhos e um nariz e boca. Agora o mundo, pelo menos o meu, tinha arrumado as malas e fugido pela janela! Eu já não sabia mais quem era e o que fazer. Só queria um veneno que me tirasse toda aquela terrível aflição! O tempo foi passando e tudo em que conseguia pensar era no seu cabelo negro, nos seus olhos de jabuticaba, nos nossos picnics com chuva, nos seus atos-infantis e nos, e nos, e nos! Eu continuei me entupindo de conhaque, isso por dias, anos e séculos. Passeava em livros e bibliotecas, em poemas e poesias, procurando um alguém que tenha passado pelo mesmo que eu. E que estivesse no mesmo buraco-sem-fundo que todas as vezes que se imagina ter caido tudo o que tinha para cair, você se assusta com o susto de estar despencando novamente. Viajei por países, sentimentos e canções atrás de alguma ocupação para os meus pensamentos em branco e des-conexos. Mas não adiantava, sempre chegava a noite e longo caminho de pensamentos, arrependimentos e lastimas que se tinha de percorrer obrigatoriamente todos os dias antes de chegar ao sono perturbado. Eu lembrava de você sempre, mesmo com todos dizendo para esquecer, que já era passado, para mim você foi meu passado e seria o resto dos meus dias! Eu sabia que seria eterno. Vivi minha vida a base de remédios, álcool e cigarros, fazia de tudo pra curar momentaneamente aquela ferida que ardia frequentemente-e-intensamente, ela já tinha total independência de mim. Morri de desejos que nunca saciei e de personalidades que nunca vivi; Porque não tinha forças nem para viver, somente pra me locomover e mover de uma hora para a próxima, de um dia ao outro, de uma década a outra. E meus dias foram passando. Pra mim sempre pareceram os últimos, os mais surdos, os mais ardidos, os mais difíceis de se passar. Sim, eles eram os últimos, não porque não houveram outros depois deles, mas sim porque eu nunca sai deles! Foi sim eterno, não só enquanto durou! Perdurou até depois disso. Foi para sempre,

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Ser mais,

Mais sim, menos não
Mais conteúdo, menos aparência,
Mais sentimentos, menos razão,
Mais liberdade, menos repreensão,
Mais proximidade, menos distância
Mais eu, mais você, mais de nós.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

morte

Um barulho e logo após, um silêncio mortal e completo.
Ganhei alguns minutos antes da escuridão mental completa, e tudo o que consegui pensar foi: E a minha vida?
Me lembrei de quando era apenas uma criancinha correndo pro colo da minha mãe - como ela me protegia! Porque não está aqui comigo? -, lembrei de como fui crescendo, das bobeiras que fiz sem motivo, dos meu professor de matemática me ensinando a somar e de como a empregada da minha casa era legal. Me vi grande, apaixonada, arrependida, machucada, feliz. Lembrei de onde jantei a primeira vez com meu marido e de como foi emocionante o seu pedido de casamento nos letreiros de New York, atentei-me para o quanto ele havia me feito feliz - e agora, quem vai cuidar dele? -. Lembrei dos almoços em família no domingo e de como toda aquela união me fazia bem! "Vou sentir falta disso tudo que vivi, tenho certeza!" foi o que pensei.

E depois desses breves minutos, tudo acabou, a dor, o medo, as lembranças, tudo havia ido embora! Não existia mais memória e nem nome. Eu não era mais humana!
Não precisava falar ou ouvir, havia me despido de todo esse traje corpóreo, não respirava, nem pensava, era apenas o universo e eu. Eu era apenas energia ...

Very Gold

"Nos demais o coração tem moradia certa, fica aqui, bem no meio do peito. Mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração!" V.M

 
"O essencial é invisível aos olhos!" Saint-Exúpery