Há quanto tempo não escuto esse som? Esse som que no passado era o motivo das batidas do meu coração, da minha respiração, complexamente, da minha existência. Como tivemos coragem de deixar todo aquele amor - perigoso, apaixonado, divertido e extremo, aquele amor só nosso e de mais ninguém - escapar do nosso controle? Porque fizemos isso? Você havia dito que seria minha para sempre, para todo o sempre e até além dele também e eu te prometi que nada haveria de me tirar da sua vida, nunca. Você era a mulher com cabelo ruivo e hálito de menta que um dia eu conheci em um bar no Rio de Janeiro, você era tão jovem, elétrica e extrema. Te vi a primeira vez e você já estava brigando com alguém e sem que eu notasse eu já estava brigando por você, por nós. Dali pra frente foi sempre nós, éramos nós na sua cama, na minha cama, no meu prédio, na sua casa, na sacada, na escada, não importava o lugar, tínhamos nos tornado um só! Saíamos, bebíamos, dançávamos, mas no final da noite era sempre igual, eu e você. Mas você era de lua, começou a se sentir sufocada, sem espaço para mudar de fase, e assim começaram as mentiras, os fins-de-noite separados, as marcas de batom que não eram suas, os perfumes que não eram meus, as suas roupas que foram sumindo do meu guarda-roupa, os lençóis sem seu cheiro-natural-indescritível e sem que nós notássemos, já éramos duas pessoas novamente. E tudo acabou. E no final das contas, cartas e telefonemas, estávamos um sem o outro, incompletos. Você deve ter seguido sua vida, adquirido bens e personalidades, talvez você nem se pareça mais com a mulher que pra sempre será minha. Não porque te tenho em minhas mãos, mas sim, porque as lembranças - as perfeitas lembranças - que tenho de você serão pro resto da minha vida somente minhas. Egoísmo? Não! Forma de sobrevivência. Não te culpo por ter seguido sua vida, nunca faria isso, eu também tentei seguir a minha, mas fracassei. Eu mesmo escrevi e assinei o meu atestado-encharcado-de-lágrimas de que sem você a vida não era vida.
Oito Dígitos. Alguns segundos em espera. Uma voz. Não qualquer voz! Era a sua voz.
Oi - eu disse.
Ah! É você. Estava pensando em nós agorinha.
Igual tenho feito desde sempre... - você disse.