quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Vinho

Comprei um vinho do Porto essa semana. Não me lembro mais o dia pois há algumas semanas tenho preferido não saber as datas. Tenho tentado evitar lembrar quanto tempo tem desde a sua última visita. Escolhi viver de segunda a domingo, durante o mês todo. Os dias da semana não tem como esquecer, afinal durante cinco deles só trabalho e me drogo e nos outros dois só me drogo. As drogas são todo o resto que não é você! As mulheres, as bebidas, os cigarros, os livros, as músicas, os bares. O vinho do Porto foi na terça. Depois do expediente, cheguei em casa sonhando com você nua na minha cama mas tudo o que encontrei foi o vinho na geladeira. E não por escolha, tive de beber ele todo enquanto escrevia meus lamentos pra você. Se tivesse realizado o meu sonho e estivesse esfregando o seu cabelo loiro no meu travesseiro todos os dias, talvez assim eu poderia escolher alguma outra alternativa, a não ser essa de só viver pra tentar te esquecer. E desse jeito só te lembrando! Mas não! Você continua fugindo de mim e se abrindo pra outros. Eu deveria saber desde o começo que você não era bicho de se enjaular. Te encurralei naquela festa da empresa e não descansei até te levar pra cama e tentar te prender por lá pra sempre. De manhã, quando abri os olhos, você já tinha ido beber uma tequila num bar do outro lado da cidade com algum outro homem-recém-condenado. Você poderia ser quem você quisesse, roçar com quem tivesse, dormir em qualquer lençol, afinal, nunca negou que não passava de um pássaro livre. Mas de um jeito ou de outro, você prende os outros e comigo não foi diferente. Tenho esperado sempre pelo meu dia de sorte, o qual você terá vontade - com muita sorte, até desejo - de me ver, cheirar e amassar e então virá até o meu apartamento e ficará até a hora que te der no corpo vontade de ir buscar outro. E como me sujeito a isso, nem eu sei! Você nem era a mais gostosa da festa, mas deu tanta vontade de te experimentar, mas como as drogas mais pesadas são as que na primeira inalada você já está viciado. Não pude fazer muito... E não mudou nada desde aquele dia. Me comparando a um desses viciados que não tem nem onde cair morto, só faltava eu poder vender o meu apartamento todo só para ter uma overdose de você. Mas infelizmente nem dinheiro te compra. Sem alternativas, estou aqui de novo, no bar.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

acorda-r

As pessoas têm se preocupado demais. Com tudo. Contas, empregos, dívidas, relacionamentos e a merda toda. Os que ainda se comprometem a não ligar muito para as particularidades fúteis da vida, continuam engrenados na máquina do mundo. Fingindo estarem distraídos com a paisagem ou a música, mas por debaixo do couro cabeludo ainda ardem as dúvidas e contrariedades. É difícil, é claro. Mas o mundo é demoníaco! Umas vezes te empurra de despenhadeiros e outras te eleva a mais alta das montanhas. As maravilhas, o tempo, as letras. Tudo o que se pode amar, pode te prender. Estamos presos. Amarrados em um dos mais estranhos estados de espírito.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Tudo por tudo

Acabei de desligar o telefone. Era sua mãe, me perguntando se eu tinha notícias de você. Mas como sempre a resposta que lhe dei não foi das melhores. Disse que a última vez que soube de você, foi aquela - como eu já havia contado a ela, mas era importante repetir para confirmar a realidade da lembrança - que um número desconhecido ligou no meu celular e só ficou chorando. Tinha certeza que era você. Ninguém choraria para a pessoa errada no telefone! Perguntei como você estava, disse que sua mãe queria que você voltasse, que havia correspondências fechadas endereçadas a ti e declamei minha saudade! E nesse momento você desligou. Como se já estivesse cansada de saber disso, ou talvez que não quisesse ter que pensar de novo nisso. O que tenho mais desejado em todos estes últimos longos meses é que você volte a ligar, mesmo que pra apenas ficar miando lágrimas no meu ouvido, assim pelo menos tenho certeza de que você ainda se lembra. De mim. Não, egoísta demais, você  nem me quer mais, imagine lembrar e pensar em mim. Então, de Nós. Você deveria ligar! Já é quase natal! O seu presente eu já comprei. Debilmente tendo esperanças que você estará aqui. Me lembro de quando você dizia ser o natal o dia em que as pessoas passavam o espanador no coração, limpavam os cantinhos e deixavam tudo brilhando! Desemperravam as gavetas onde se guardavam sentimentos e os enfeitavam com fitas de cetim para entregá-los a queridos seus. Era um dia célebre! Cadê sua honra? Esqueça logo todo esse seu plano. Só porque você quer mudar seus caminhos não precisa pedir para a vida transformar seus pés. Eu vou viver do jeito que você quiser agora! Até fazer comida de vez em quando. Comprar sorvete pra você! Descobrir o número do seu batom preferido no catálogo. Tudo tudo. Sei que falho sempre. Sou falho. Mas posso tentar. Continuar..

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Frio

Já é quase natal. O ano passou tão rápido quanto o meu café esfria de manhã quando me distraio com o leite cujo a brancura sempre me impressiona. Para mim é o branco mais branco que existe! Mas como seria o menos branco? Branco é sempre branco, não?
Que confusão!
O café já esfriou de novo!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cegos que enxergam

Tenho me debruçado no ato de loucura, ou pelo menos na tentativa deste, de analisar a humanidade. Me propondo a cada acordar, levantar com os olhos já despertos para o mundo, não querendo deixar escapar aos olhos, ouvidos, boca, tato, paladar e olfato nenhum segundo do tempo de existir. Não sei se isso é uma suplica por uma explicação - se é que esta existe - para o universo caótico que habitamos e fazemos parte, onde a poeira cósmica solta no "céu" em determinados minutos se condensa em espírito e passa a respirar a vida humana, isso é realmente exorbitante para a minha capacidade mental-espiritual, sendo eu um nada dentro de tudo. O abrir os olhos para ver é tão essencial quanto o respirar para continuar vivo. De olhos abertos, existimos, e fazemos existir outros. Mas os olhos nos cegam e a cegueira é inevitável quando se enxerga. Olhando podemos ver o que se pode enxergar, mas não vemos o que está na escuridão, onde os olhos não se atrevem a adentrar. Janelas da alma, que em falta, impedem a luz de adentrar as mais sombrias entranhas da mente, deixando que se reste a transparecer apenas aquilo que não é visível, o que não são necessários os olhos para sentir, os defeitos, virtudes e medos. Vendo-se cego - irônica demais essa combinação linguística - os indivíduos mergulham em um oceano de paranoias, em que as ondas de sentimentos são incontroláveis, pois por não terem a quem lhes ver, se veem eles livres de julgamentos supérfluos, assim mostrando em todas as situações o que de si tem de mais. Pior ou melhor, depende de quem se trata e de todos os históricos que o situam em uma das categorias. Não acredito mais no que olho! E hoje me vejo sem saída por enxergar. O melhor era se entregar a cegueira de vez...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Brasil

Hoje foi dia. Hoje foi de Chuva. Tem dia que são anos. Outros segundos. E quase sempre de Sol ou mormaço. Mais mormaço, que é mais Brasileiro. Elementos da natureza escritos com letra maiúscula me lembram mais um recurso camoneano de se referir a entidades quase que mitológicas. Isso não é Brasileiro. Eu sou. E tu? Nascestes de quais pernas? Não que isso te faça muito. Pra dizer que é símbolo autóctone do Brasil tem que ter muita virilidade. Ser de muito ser. Muita carne e muitos excessos. Exagerados! Cheios de morenices e mulatices. Carregando os sacos na cabeça e o passado nas costas, por entre toda a poeira e verde da nossa terra. Somos os mestiços e originais Brasileiros.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Inception

São quatro da manhã. Mal começou o dia e eu já me sinto sufocada. Na realidade, mal começou o mês. O motivo do sufoco vai muito além dos cobertores que estão por cima dos meus pés até minha cabeça, transformando minha cama em uma bolha de calor e proteção. Proteção contra mim mesma, que já não sou mais segura para habitar. Estou apodrecendo com as minhas mentiras e definhando com as minhas verdades. Envergonhada de exercer esse falso-domínio sobre mim. A verdade é que sou dominada por instintos. Alguns raivosos e assassinos e outros pacíficos e protetores. Pois eu sou da arte, e nesta,  subordina-se primeiro ao próprio eu, a sensibilidade, desejos e repúdios, para só em um segundo momento   permitir que o racional possa penetrar em nossa consciência. Mas nos dias de hoje esses impulsos artísticos  não são valorizados e muito menos bem vistos, e tenho tentado controla-los, mas tem sido em vão. Tento me amordaçar, acorrentar e algemar a  princípios morais sufocantes que vão contra o respirar da minha liberdade! Costumam me atacar em todos os momentos em que me entrego a minha solidão de pensamentos e sonhos, quando fico imaginando minha boa vida livre de amarras. Não sei nem se seria tão bom quanto sonho, nem mesmo se é possível realizar tantas insanidades quanto imagino.
Além de todos esses sentimentos de insatisfação tenho sido devastada por uma ideia que em minha mente foi plantada a alguns meses. Um súbito desejo proibido, absurdo e egoísta. E para começar toda essa confusão mental só bastaram alguns olhares. Fui fraca, confesso! Mas o que posso fazer se já estou inundada de toda essa insegurança sobre mim mesma? Não consigo me firmar mais nas minhas decisões, afinal não sei nem quem sou, quem dirá, saber o caminho que quero percorrer. Tenho procurado respostas em tudo que olho e infelizmente quase sempre acho que as encontrei. Podem até ser respostas mas não tem sido as corretas para as minhas perguntas. E em uma dessas buscas por mim, encontrei ele. Um rapaz jovem com olhos de um negrume intenso e brilhoso, que evocaram do fundo de minha consciência os meus inescrupulosos impulsos sentimentais. E sabe como acontece né? Em uma noite você está tomando um martíni em um bar e na outra você está preparando café da manhã vestida na camisa dele. Comigo, que naquele inverno já me encontrava diante de todo esse turbilhão de emoções que aguçam todos os sentidos de minh'alma, foi na mesma noite. Te conheci naquele bar da Lapa e você foi só me (en)cantando ao som do Rei, na boa-voz de um cantor desconhecido. Foi me levando pelas afinidades, coincidências e acasos. Com essa hipnose, não consigo nem lembrar de como pulamos do beijo-no-rosto de cumprimento para os beijos-desesperados no elevador do seu prédio. Foi fatal. Passei a dedicar minha insensatez a você. A minha fraqueza então, nem se fala. Até aqui, tudo já não estava bem, pois seguindo a este novo comandante que nem sempre dava ordens  que podiam ser avaliadas como algo positivo para todos, eu estava suscetível a todo o tipo de julgamento e condenação. Acontece que no meu peito já estava acomodado um outro homem, o amor. Único, pois era verdadeiro. Mas às almas calorosas nem sempre só o Amor satisfaz a carne, a Paixão é sempre bem vinda a nós que temos frio no Sol. A noite, aqui, na minha cama, na minha bolha, essas sentenças são ainda mais agressivas, se dividindo e subdividindo em uma série de questionamentos, que ficam gritando nos meus ouvidos e ardendo em meu coração. Não consigo me desviar deste impulso de viver o novo e incandescente. Mas reconheço que estou "errada". Mas também me pergunto: "Errada" aos olhos de quem? Aos olhos da sociedade que criou um molde para relacionamentos e instituições familiares? Aos olhos de algum 'deus'? Aos olhos de meu amor?! No entanto, e os meus olhos? Devem permanecer no escuro diante de tudo? E além deles tenho também que conter as batidas do meu coração?
Quantas exigências e leis somos obrigados a cumprir e seguir, por vezes, a força. Na maioria das vezes, na verdade. São destas que estou saturada. Se devo apenas consentir aos mandos e desmandos das vozes externas a minha mente, sem balbuciar ou sussurrar qualquer objeção, declaro ser indesejada a minha presença-perigosa na Terra, pois se aqui só se pode viver alienado a conceitos e princípios que são tomados como modelos ideais de vida pacifica e monótona, sem nem a maioria conhecer as origens destes pensamentos moralistas, e se são realmente virtuosas ou não. Me recuso a entregar o borbulhar do meu espírito a essas normas-arbitrarias que são tão imperfeitas quanto quem as criou. Prefiro permanecer aqui. Sendo queimada pelos dardos do sol que insistem em penetrar a janela da minha alma. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Pássaros

Em mais uma tediosa e nauseante segunda-feira do mês das flores, estava sentada a conversar com dois quero-quero e três sábias. Enquanto eu tagarelava minhas andanças e arrependimentos, também compartilhava um sanduíche-ruim com todos eles. Joguei um pedaço para cada um e me coloquei a observar a reação de um a um. Três deles começaram a comer seu próprio pedaço e apenas se concentraram nele, os outros dois viram os seus pedaços mas foram atras dos outros para lutar pela comida deles, não satisfeitos com os seus pedaços sem graça, começaram a atacar para roubar as migalhas do pão dos outros pássaros. Fiquei analisando toda s aquelas ações e reações destes pequenos animais. Notei que os pássaros que tinham sido ferrenhamente atacados, lutaram por poucos segundos e voaram para uma outra parte da grama e lá começaram a procurar pela terra alguns insetos, um deles encontrou uma, presumivelmente, saborosa formiga no chão, deu algumas bicadas envolta de onde ela estava para assustar e deixá-la sem saída e então em um golpe-fatal abocanhou-a por inteiro e engoliu. O outro pássaro, o único que até aquele momento não havia comido direito, deu de cara com aquelas migalhas que haviam sido abandonadas pelos pássaros que tinham lhe atacado e então satisfatoriamente desmembrou todo aquele misero pedaço de pão e o comeu, pedacinho por pedacinho. Impressionada com aqueles pássaros, comecei a me entregar ao meu turbilhão de pensamentos e emoções. Me coloquei a pensar o quanto aquelas ações e reações eram semelhantes às dos humanos, o como todos nós agíamos instintivamente. Os cinco pássaros estavam ali para aproveitar daquele alimento que facilmente estava sendo oferecido a eles. Os três que comeram com satisfação e alegria tudo aquilo logo foram interrompidos pelo sentimento de avareza e maldade dos outros dois pássaros, que não tinham se contentado com os pedaços que lhes foram jogados, e resolveram atacar os outros e com o uso da força bruta e da ignorância se apossaram das migalhas deles; os pássaros que ficaram com fome procuraram um caminho auxiliar, uma forma de sobreviver àquela disputa pela vida; um deles partiu para o mais fraco e vulnerável e o devorou sem escrúpulo ou piedade alguma, e o outro se viu desesperado, sem nada para comer, e com muita sorte encontrou o tesouro que havia sido desdenhado e ignorado pelos outros pássaros e com ele se alegrou. 
Me senti meio tonta envolta daquilo tudo. Como éramos tão semelhantes?! Como tão prepotentemente podíamos nos deixar levar por essa falsa-superioridade?! Essa falta de humildade! Será que os outros nunca pararam para observar que nós somos meros seres vivos como qualquer outro, que se adapta e evolui, conforme lhe são impostas barreiras e muros. Talvez essa seja a noção que nos falta para alcançar a redenção da vida humana: igualdade.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Fingimento

Fingimento nunca foi uma opção. Nem deveria. Para ninguém! Qual o intuito de transparecer palavras, ações e sentimentos que não são fidedignos ao que realmente você é?! Só para agradar? Agradar a quem? A si mesmo, ou a todo o resto? Deve ser a todos. Enganadores. Pessoas que não tem a mínima autonomia de si e de suas ações ao ponto de não conseguirem ser quem realmente são. De falar o que querem e agir como querem. Esses são os piores! Que falam as suas verdades só quando já não é mais nosso desejo escutar suas mentiras e fingimentos. Não entendem que as pessoas também se cansam de ter que verificar a veracidade de todo conteúdo que é passado por estes indivíduos. Mais fácil e melhor é julgar tudo como mentira...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Kisses and Cake

Me sinto calma e com pontadas de felicidade na boca do estômago, como se tudo criasse uma harmonia dentro de mim. Minha vida por tempos foi errante e questionável. Com pouca experiência e marcas. Mas hoje tenho aprendido como o sopro da vida é doce. Sem perguntas. Sem respostas. Livre de toda confusão mental. Livre dos ' um dia após o outro '. Com um domínio sobre mim e o que faço, sobre minhas ideias e sentimentos. Controlada, por mim, e por nada mais. Hoje consigo arrumar a minha cama e seguir em frente com tudo. Sem ficar chorando de baixo de gélidos cobertores, a espera de uma redenção, que não vale nem o redentor. Esquecida de bobagens e falsos sofrimentos. Com mil e um rumos. E com livre arbítrio de seguir qualquer um, e de mudar para algum outro se a mim for melhor. Convivendo melhor nesse mundo que não abriga muito sentimentalismo. Não sei se é o melhor rumo. Mas pra que ficar parada vendo a vida escorrer pelas mãos? Vou me permitir...

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Revolution 9

Tenho visto bocas-incaláveis que babam superioridade na cabeça dos oprimidos inferiores e que não se sentem no dever de conceder direitos, nem muito menos compreensão. São competentes no exercício dos postos de comandantes mentais e manipuladores de princípios. São cegos perante todo o tipo de miséria e visionários diante dos montes de dinheiro. Transportam e veiculam condenações e, consequentemente, condenados. Injetam venenos que atrofiam consciências e calam pensadores. Uma gente sem gentileza. Uns humanos sem humanidade! Ainda menos humildade. Donos de um circo onde os palhaços por vezes são proibidos de sorrir! Adestradores de um exército que já esqueceu dos seus poderes de revolta.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Muito Pouco

Olá meu amor, bom dia. Bom dia é um pouco hipócrita da minha parte. Acho que cabe melhor apenas um Olá mesmo. Então, Olá. Como sempre te digo, prefiro ser pontual, fácil de decifrar para vocês, homens, que não tem muita autonomia e humildade para o entendimento de certas coisas. Pretendo ser curta e grossa - se é que isso é possível -. Eu tenho tanto pra te falar, tanto pra me desculpar, tanto pra me lamentar, tanto, tanto, tanto! O muito não está achando mais espaço dentro de mim. Preciso expulsá-lo aos poucos. E aqui deixo um pouco do meu muito. Um pouco do muito sentimento que tenho por você. Mas que também preciso expulsar de mim. Me dói ver que você não foi pra sempre. Nem chegou perto. Mas a culpa não é sua, meu amor, eu é que não consigo mais ficar parada vendo minha vida passar. Eu preciso andar! Se puder, até correr. Recuperar os anos que já perdi. Não que você tenha sido uma perca de tempo. Escrevemos um livro de aprendizado e de prazeres juntos! Vivemos confrontos e pedidos-de-paz. Atravessamos quase quatro primaveras. E se hoje quero seguir em frente é por você também. Sei que te prendo. Prendo sua vida. Sou totalmente dependente de ti, mas sei que isso é errado. Você antes de mim tinha amigos, família, emprego e etc. E hoje eu te tomo o tempo, o amor, a felicidade e muitas lágrimas. Não me importo se o mundo acha normal que o amor seja quase um ladrão de vidas, almas e corações. Eu não quero roubar. Sempre te falei que este pecado era abominável. E eu estou cansada de cometer e sofrer dele. Quero te ver livre! Livre de mim e de outras. Não se case mais, meu amor. Sei muito bem que você não está preparado para selar este contrato. E eu também não. Pretendo não me deixar ser arrastada por estas histórias de amores. Não se assuste com a minha fuga. Você já devia imaginar tudo isso... Talvez no próximo verão eu te ligue. Se estiver preparado, atenda. Isto é um pré-requisito.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Alícia

Era uma mulher com nome de meretriz. As vezes nem mulher parecia. Aparentava mais ser uma adolescente com a puberdade gritando pelo seu corpo. Encantador! Parecia mais uma ninfa, seduzindo os homens com a sua graciosidade e falsa-inocência. Filha da natureza. Tinha um cabelo negro que quando ela ficava nua, o contraste com a sua pele alva era sensualmente chocante. Olhos brilhantes, sardas espalhas pelas bochechas  e uma boca fina desenhada por Vênus. Uma jovem entregue aos impulsos do amor. Temperamental, sentimentalista e um pouco esquizofrênica. Mas era tentadoramente bela. Me fazia tão bem. Trazia vida ao meus quarenta anos. Não tenho a minima noção do porque ela escolheu me amar. Não passava de um homem mal resolvido como todos os outros. Com problemas de infância, orgulhos e traumas. - Sempre escutei isso dela -. Mas nos amávamos. Dizia querer envelhecer comigo. Começamos a mobiliar uma casa e construir um ninho de respeito e amizade. Um gosto muito excêntrico decorou nossa vida, papel de parede branco com flores azuis, um sofá bege e um vaso que me pediu para sempre encher com flores que representassem o nosso estado de espírito. Jacintos da noite, rosas, margaridas, narcisos e muitas outras já passaram por aquele vaso. Vivemos juntos por anos... Viajando, pagando empréstimos, comprando cortinas e tapetes novos, chorando mágoas e beijando a vida. Começou me pedindo por mais amor, mais demonstração-de-amor e com o passar do tempo foi me exigindo que eu parasse de fumar, colocasse uma aliança no seu dedo e até que tivéssemos um filho. Foi me cobrando mudanças drásticas em aspectos que já tinham se encrustado em mim. É difícil de se desfazer de personalidade e temores quando se tem quase meia centena de anos vividos nas costas, nas mãos e na cabeça! Eu amava você muito, só não conseguia passar por cima de mim para isso. Era árduo, complicado e doloroso. Sei disso, porque tentei por várias vezes. E estou disposto a tentar por mais milhares de vezes. Mesmo que eu morra tentando. Mas ela veio me dizendo que já tinha perdido muito tempo nessas tentativas de mudança no meu caráter. Que estava com receio de perder a boa idade lutando uma guerra já perdida a anos! Preferiria ter sido mandado para o exílio, desterrado da minha pátria, isolado de minha família e amigos do que ter escutado isso. Como chegou a isso tudo, não tenho a minima noção. Apenas em um dia ensolarado como qualquer outro,  parou de querer tentar a vida comigo. Espero que pelo menos tenha sofrido para isso, que tenha pensado por meses antes de tomar esta decisão. Quase um rompimento de contrato. Uma traidora de sangue. Mas se depois de todo esse pesar ainda quis se arrancar de mim, desejo que tenha sido a decisão certa. Para nós! Que tenha sido porque você conseguiu chegar a conclusões que eu não consegui chegar. Pode ser porque o sufocar dos anos tenham me cegado perante algumas. Ainda não consegui começar a prática do seu esquecimento, acho até que seja improvável, por eu não ter mais tantos anos de vida pela frente. E esquecer quem amou é algo que leva muito tempo. Décadas por vezes! Mas eu tenho um estoque enorme de elixires de esquecimento e ilusão. Utilizarei dele por ora. Talvez ele me cegue um pouco mais. Seria bom não ver tanta tristeza no mundo...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Terra dos inversos

Tem anos que tenho perambulado por esta terra. Onde tem desde de geleiras a cactos. De natureza exuberante e por vezes desértica. Terra com vida. Aqui habitam seres de sangue frio e alguns de sangue quente. Tenho visto sujos fatos e limpas mascaras de uns tipos incomuns. Alguns matam, desmatam, negam e se negam, outros são intensos demais, no amar e no repudiar. Convivemos com uma organização capitalista em nossa sociedade, contribuintes e ladrões se esbarrando em todas as esquinas e sessões de eleição. Aproveitados e aproveitadores. Andando pelas ruas e vielas podemos avistar milhares de tipos e biotipos. Pacificadores, guerrilheiros, puritanos e rebeldes. Gente que muito se veste e outros que gostam da nudez. Poucos escrevem leis, a maioria não sabe escrever nem o próprio nome. Tímidos e sem-vergonhas. Ninfomaníacos e assexuados. Também não quero esquecer daqueles que ainda brilham a luz na escuridão. Que não desejam mal a quase ninguém. Dos que ainda querem viver a vida ao invés de roubá-la. Aqui, a terceira lei de Newton as vezes falha e por vezes, nem existe. Principalmente quando as ações são do tipo top to down. Também se mostra falha, aos olhos humanos, quando se trata da essencial ação de amar. Desta, participam amantes, amadores, amados, traídos, fracassados e vencedores. O amor é colocado pelos seres humanos como uma prioritária questão a ser respondida, desvendada, transfigurada, e por alguns radicais, até mesmo amarrada, amordaçada e trancafiada  em algum lugar que não possa mais trazer grandes problemas. Todos que por aqui andam, seguem um relógio que quantifica quantas horas ainda se tem para viver. Todos cronometram o tempo que falta para voltarem ao lugar de onde vieram. Essa é outra questão problematizada neste planeta. Ninguém sabe afirmar com sentencial   certeza suas origens, e muito menos, seus destinatários. Uns confiam em entidades divinas que moram no azul do céu, outras que já viveram por aqui anos atras mas não se lembram do que aconteceu. Cada um se entregando a prática mais cabível a suas ideias. Seres que tem medo de que sua existência caia no esquecimento de todos. Fazendo com que sejam notados, avaliados e categorizados, para que seja fácil o acesso, por outros, às suas vivências e memórias, quando deixarem de se materializar nesta terra. Nesses meus dias de existência tenho transformado a mim, e ao meio. Deixando vestígios do meu legado por este planeta. Esperando pelo dia em que não terei nada mais que aprender aqui e virarei um outro ser. Continuo aproveitando esses dias de sol e os humanos que eu amo. O que pretendo deixar aqui são apenas ideias boas, mas por vezes, a convivência nos amassa e engana, transgredindo nossas ações e deturpando nossos pensamentos. Deste mundo também pretendo levar bons sentimentos, aprendizados e poesias decoradas. Pretendo permanecer aqui por mais algum tempo. Brindando a vida e louvado a natureza.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Telefone

Como assim você sente muito? Se sentisse o minimo de afeto por mim, não estaria fazendo o que faz. E outra, se é que o seu peito é capaz de sentir! De amar. Aparentemente não. Digo aparentemente por ser referido a aparência que você tem transparecido para mim. Porque sei que antes teu amor não podia ser tão mentiroso e metido. O que te aconteceu para querer que eu esqueça tudo? Se a você é possível, vá em frente! Mas para mim é ideia inviável e inoperante. Não por você ser tão importante assim, e sim por eu não ser uma pessoa que esquece facilmente das vivências. Tento acumular o máximo de lembranças. Mentais e/ou físicas. Sou apegada as minhas memórias. E de ti, sei que não vou esquecer. Como conseguiria? Olhe o tempo que passamos juntos, todos os momentos, todas as trocas de beijos e ideologias. Nada muito fácil de se dissipar na memória. Por que agora diz que amor é um sentimento que você não tem pra me dar? Amor não se dá em um dia e se toma no outro. E se você conseguiu fazer isto, é porque este sentimento nunca foi amor. Você deveria ter sido sincero. Dito desde o começo que estava querendo viver uma experiência-de-vida, não um conto-de-amor! Agido como se só quisesse isso também, não declamando eu te amos. Acho que no próximo natal não estaremos juntos... Por mérito e veredicto seu!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Hora marcada

Existem dias no ano em que tudo fica contrariante. Muitos demais. Nariz escorrendo, sínteses e paráfrases a fazer, olhos caindo de sono e espírito flechado. Tudo isso em um dia. Em poucas horas que são contadas segundo a segundo antes que se acabe o dia. Eu sou obrigada a correr até que o ar tenha sido completamente expulso dos meus pulmões! Só pra conseguir não perder a minha cabeça, que vive acorrentada ao trem das 24horas. Nada disso tem me feito feliz! Nem ao menos aquelas pontadas de entusiasmo sentidas no peito tem me atingido mais. Tenho andado as cegas pela minha vida, só para abrir bem os olhos para a minha rotina. Rotina opaca e inerte, que não adimite falhas e nem equívocos. Bem menos este último. Exigem de mim uma paciência que a sociedade e suas indignações não tem me permitido ter. Paciência e calma. Mas como adquirir essas imagens-apassivadoras em meio a tantas datas estípuladas, horários cronometrados e presenças exigidas? Acho que minha raiva está mesmo é no contar do tempo. Mania mortal essa de contar quantas horas falta para a morte! E eu fico aqui, no chão da minha garagem, sofrendo devagarzinho. Sendo consumida pela fogueira de desilusões, que a algum tempo não tem mais faíscas de felicidade. Querendo ser salva. Rendida. Posta para fora disso tudo de qualquer forma! Mas isso não tem acontecido. Pelo contrário. Não sei o porque, mas em resposta a minha boa ação às plantas, ao céu e à terra, não tem sido bem vistas. Nem retribuídas. Sei que isso é por hora! E que o queimar do desespero uma hora acaba. Hora, não. Não quero mais contar o tempo! Em algum momento, acaba. Não queria que nada disso fosse tão dramatizado. Mas é minha unica forma de soprar as ideias da minha mente...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Canção de Amigo

Eu, quando menor em tamanho e maior em existência, era um pouco excepcional. Muito mais do que sou hoje. Amava minha unica irmã, cheiro e sabor de terra, o céu azul de Brasília e um vestido liberty de flores coloridas. Em dez minutos de extremo esforço cognitivo consegui apontar esses cinco puro-amores. Minha vida era intensa e inconsequente! Era maravilhoso. O vento era mais fresco, o sol mais quente, o kinder-ovo mais barato   e as mágoas nem existiam. Nesta minha fase maravilhosa, algo foi marcado. Até sublinhado e grifado. Nos meus treze anos incompletos eu ganhei um amigo. Um daqueles que a gente não dá nome pela falta de existência física comprovada. Mas o meu eu realmente nunca vi. Nunca dancei ou pedi pra minha mãe para ele sentar conosco na hora do jantar. Eu o imaginava longe. Como um destinatário de cartas. Não sei o porque mas eu não precisava da presença corpórea dele. Só o queria como um ouvido amigo. A quem eu pudesse enviar meus andados pela Terra. Escrevia para ele tudo. Absolutamente tudo. Minhas histórias, cartas, lamentações e festanças. Contei a ele sobre meus dias e noites, namoros e namorados, simpatias e repulsas e nunca obtive uma resposta. Nada! Senti falta delas algumas vezes. Vezes essas que a unica verdadeira e sincera ajuda poderia vir dele. Porque era a ele que minhas verdades eram declamadas, pintadas e escritas. Aos outros eu só enviava mentiras, fingimentos e adaptações-de-roteiros. Transformei meus dias, paixões e desesperos em sínteses, canções, contos e diários de bordo. Até minhas esquisitices mais escondida e bobas ele tinha ciência. Do meu gosto por bules de chás, minha repulsa por gatos e meu amor pela cor das fogueiras. Não sei qual foi o momento em que decidi que não valia mais a pena escrever cartas para ele. Não que antes tivesse valido. Mas antes era necessário. Necessidade minha de poder ter com alguém um segredo. Meus segredos. Mas me lembro da primeira vez em que me comuniquei com o meu melhor amigo-imaginário. Das minhas singelas e sinceras, três linhas de apresentação. 
"Sou eu, aquela garota que você nunca viu, nunca verá e que nunca existiu. Sei que você nunca me conhecerá pois não tenho certeza da minha, e nem da sua, existência, e com finalidade de uma boa companhia nas horas de imaginação insana e realidade inventada, crio você!"

terça-feira, 24 de maio de 2011

Estrelas que sabem sorrir

Todos me atravessaram com aquele olhar desconfiado e ríspido, de canto-de-olho. Me flecharam com olhares de dó e de desconfiança. Como se o que eu estava fazendo fosse um ato de loucura e desespero. Estavam errados! Era um pouco pior. Isso só porque eu estava voltando pra você. Só porque você no último inverno me deixou. Me deixou não, isso seria piedoso. Você me abandonou. Continuou vivendo sob as minhas vistas. Como se nada entre nós ainda estivesse aceso. Como se a nossa brasa, já tivesse esfriado e virado cinzas ao vento. Ou talvez fingindo que era assim, também. Trocamos entre nós, durante esse tempo de exílio, olhares-francos e textos inacabados. Nunca largamos de nós. Mas não havia mais nada. Só o vestígio da traidora necessidade de compartilhar a vida com o outro. E "vivemos" assim até alguns dias atrás. Quando eu pude te ver novamente. E estávamos mais uma vez ali, frente a frente. Olhando e relembrando os céus dos dias velhos e passados. Aquela nossa estrela ainda estava lá. Não sei como mas em alguns minutos, sem que eu percebesse já estava com a mão amassada na sua. Parecia um dos dias do nosso antigo inverno. Um daqueles de congelar os dedos dos pés. Mas a lua estava tão linda! Brilhante e inteira. Você me pediu pra recitar uma frase do pequeno príncipe. Fiquei totalmente emudecida, procurando a perfeita, a cabível ao memorável-momento. "Tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo..". Fui interrompida por sua boca gelada já na minha. Quando aconteceu essa última oração entre nós. Você coube no meu coração novamente. Meu amor. Minha vida-de-amor. Como tinha saudade de ti e da tua pele alva. Dos teus olhares fixos, assim de tão perto. Tinha saudade até da nossa imagem que eu imaginava ver de cima. Nós dois, deitados na calçada, a luz do luar, contando estrelas e cantando elogios do fundo do peito. Uma pintura de poesia. Com cores cujos nomes são sentimentos. E as pinceladas são beijos doces. Eu estava entorpecida. Totalmente submersa naquela maré de emoções. Esquecida das noites em claro e dos lenços usados. Da sua façanha que recebi de presente. Do quanto você havia me enganado e magoado. Mas naqueles momentos nada disso parecia fazer sentido. Os suspiros magoados de antes haviam se esvaído.  Eu pertencia a você de novo. E te sentia como meu também. E para mim isso bastava.. por hora. Ou se conseguisse me manter vidrada naquela lembrança.. pra sempre. E o Medo?! Medo de você desistir de mim novamente. De me assassinar a sangue frio, mais uma vez. Mas e a Felicidade? Mas e o Perdão? A você talvez, esses, não sejam merecidos. Mas a mim eles são inerentes quando se trata de você. Talvez, porque eu sou assim mesmo. Uma incógnita. Não no sentido poético! No literal mesmo. Algo desconhecido. Variável. Montável. Pode até ser isso que faça com que não consigamos nos encaixar. Nos caber em um nós. Aí entra você. Um fraco-amante que não se dispõe das armas e luta por viver nosso amor. Mas como eu podia pensar nessas fatalidades em um momento tão vivo quanto aquele? Ainda mais eu! Uma mortal-sentimentalista. Poetisa do amor. Cantora do fogo que arde sem se ver. Me entreguei totalmente ao esquecimento das consequências. Das previsíveis consequências. Das possíveis - e até prováveis - lágrimas futuras. Desde este milagroso e transfigurador dia, voltamos ao nosso antigo novo-amor. Aos lençóis macios e bagunçados. E aos memoráveis Hollywoods vermelhos..

sábado, 14 de maio de 2011

Assassinato

Escrevo-te, pois és tu, leitor, o único que queres me ouvir. Ou tu és como os outros? Os que fingem me ouvir? És como aqueles que vivem das minhas desgraças e menosprezam meus sentimentos? Estas, tu, mortal como eu, disposto a ouvir o meu choro-sangrento e sentir, pelo menos o que eu quero te passar? Estás mesmo preparado pra morrer uma morte que já me assassinou? E preste atenção, pois escolhi essa morte a dedo! Na verdade a corpo todo.  Eu conheci a minha assassina no céu. Em meio a um céu que despejava estrelas e dissipava as nuvens, transformando-as em simples borrões cor-de-gelo. Estávamos em um vôo calmo de volta para Brasília. Eu já tinha entrado naquele avião, como eu entro em todos os outros, com muito medo. Com medo e com um antídoto para ele. Um cantil de Gim Tônica. Quando eu entrei você já estava lá. Embrulhada em um cachecol vermelho e com os olhos meio assustados. Mais parecia uma criança que tinha sido roubada o ursinho-preferido. Me sentei do seu lado. Você nem me notou - não é muito diferente de hoje - continuou com o rosto entre as mãos. Decolamos. Eu peguei meu amigo-cantil e dei duas boas goladas. Quando você me segurou a mão e pediu alguns goles-de-coragem também. Conversamos aquela noite sobre os nossos medos e temores. E anos depois ainda continuamos falando deles. Alguns diferentes, outros idênticos aos daquele celeste-dia. Mas  mais culpado desse crime, foi o tempo. O tempo devorou nossas personalidades, o tempo nos transformou em máquinas (co)mandadas por ele. Passamos meses em estágio de êxtase. Em um frenesí cego de paixão. Mas o tempo transformou o eu e você em um nós. Éramos nós! Com orgulho no começo e com medo no fim. Medo de nunca mais conseguir ter um eu de novo. Medo de ter virado escravo do amor do outro. E nem sempre é "querer estar preso por vontade" (Camões). Conosco era necessidade. Necessidade de beber do mesmo cálice do outro. Da vida do outro. Nesta etapa já estávamos os dois definhando, morrendo a cada dia de migalhas-da-rotina. Até que você percebeu isso. Foi quando tudo começou a desmoronar. Lágrimas, pratos, alianças, roupas, tudo ia parar no chão. Despedaçando os nossos laços. Sei que não foi só você. Que foi o nós. Mas você foi quem teve coragem de se transformar em eu. Você que ia embora em uma madrugada e aparecia de manhã na minha porta, chorando e com a saudade-perturbadora de sempre. E eu sempre te aceitei. Porque em mim começava a nascer uma tristeza-mortal cada vez que você ia embora. Daquelas que flutuam até nas mais profundas bebedeiras. Mas já não dava mais. As nossas idas e vindas tinham se tornado mais uma parte da nossa rotina. E em uma noite, como aquela que nos conhecemos, você foi de novo. Em mais uma tentativa de separar o nosso nós e transformá-los em dois defeituosos-eus. E desde aquele dia você não voltou mais. E nem saber onde você está eu sei para tentar voltar pra você. Não porque eu ache que vai mudar, mas sim porque eu não tenho aguentado. Como disse, eu tenho sido assassinado, a cada dia que coloco os pés pra fora da minha cama-fria e sei que não vou te achar mais. E dói ainda mais saber que você não tem morrido também. Que a faca-afiada da saudade não tem te feito nem mais arranhões. Você não tem nem mais ligado e desligado em seguida. Deve ter me esquecido de vez. Feliz de ti. Porque a mim tem atingido apenas a tristeza. Eu continuo sendo o condenado. Preso no vazio que minha vida se transformou. Arrancado de mim, pelo amputo que sofri de ti! 

terça-feira, 3 de maio de 2011

contos.

a mim tem preferência sapos sinceros, a príncipes enganadores..

domingo, 24 de abril de 2011

Será que é assim pra todo mundo?
Ou só é assim pra mim porque eu deixo ser?

terça-feira, 19 de abril de 2011

Insolúvel

Eu era tão nova. Nem jovem era. Não passava de uma criança! Uma criança querendo ser mulher-de-verdade. Mas eu não era. Infelizmente não chegava nem perto de ser. Se fosse, talvez seria tudo diferente. Talvez hoje estivéssemos noivos e você não teria largado a faculdade. Talvez já tivéssemos viajado o mundo juntos. Talvez, Talvez. Ao certo não posso dizer, mas é o que eu queria que acontecesse. Hoje! Antes não. Antes eu me portei como uma criança-mimada. Com medo do que tinha pela frente. Com medo dos problemas. Com medo até de ser feliz demais. E por esse medo de antes, hoje sou, eu, uma mulher-de-verdade amargurada. Rancorosa. Arrependida. Arrependimento esse que tem habitado em mim por meses, anos, décadas. E ele é tão profundo, tão encravado, que tenho a máxima certeza de que ainda estará lá nas próximas. A minha unica saída seria você me deixar entrar pra sua vida de novo. Entrar de vez. Pra não sair nunca mais. Eu te juro que cresci, que agora eu estou pronta pra te amar de verdade. Do jeito que você merece. Me aceita! Me ama! Me tem de volta. Por mim. Eu nunca me perdoei pelo que te fiz. Nunca me perdoei por ter te abandonado, mesmo sabendo que isso te destruiria por dentro. Eu fui embora. Arrumei minhas malas e ainda fui indigna de me despedir por um aceno da janela do táxi e um bilhete-molhado-de-lágrimas. Eu não passava de uma ingrata, de uma maldita. Você nunca me perdoou por isso, como eu poderia me dar essa ousadia? Então me tornei nisso. Uma mulher que vive no hoje, mas que chora pelo ontem. E esse choro é tão intenso que ela tem chorado por noites. Até por dias. E não acaba. Não para de doer. Mas o pior não é isso. O pior é saber que você ainda me ama. Que ainda me tem como lembrança-de-vida. Talvez mais ruim do que boa. Mas me tem. E me dói que tu não me queiras. Que você lute contra me querer. Mas eu te entendo. Eu não te mereço. Você era tão amante. Tão meu homem. E eu não te quis. Te deixei. É, eu definitivamente, não te mereço. Quero me matar por isso. Mas morrer não seria a solução. Levaria essa mágoa-profunda até para a minha nova forma/conteúdo nessa ou em outra terra.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Fra(n)queza.

Que deve haver no mundo pelo menos uma pessoa que dê certo comigo, disso eu tenho certeza! Mas quantos buracos vou precisar abrir em mim e em outras diversas pessoas pra conseguir encontrar? Quantas garrafas eu vou ter que secar até encontrar alguém pra curar minha solidão de verdade? Eu beijo um, durmo com outro e da  mesma forma não encontro! Cansei! Quero desistir. Não quero deitar na cama de mais nenhum cara que mente pra mim dizendo que eu sou a melhor pessoa que ele já encontrou, ou que eu sou a cura para os seus problemas e solidões. Todos eles no final mentem. Fingem. Machucam. Podem parecer anjos e no final a mim aparentam ser demônios perturbando minha paz de espírito. Eu queria poder me dar a ousadia de desistir. Pelo menos por um tempo. Só pra me recuperar! Na verdade, eu queria conseguir ficar só. Eu e Eu. Mas eu não consigo. Sou fraca. Fraca no amor. Fraca pra dor. Fraquejando a cada oportunidade que me é lançada. E o pior de tudo, eu não sou franca. Nem com você, nem comigo, nem com o próximo. Eu minto. E nas minhas mentiras a pior prejudicada sou eu mesma. Mas como vou mostrar pra todo mundo que eu sou assim? Incapaz de me satisfazer com as migalhas que todos insistem em me oferecer. As vezes até trocam ou vendem. Quem quer que seja que me jogou nessa bagunça, deveria ter a obrigação de pelo menos me dar o privilégio de não precisar ficar me entregando e nem me humilhando por amor. Nem por carinho e nem por verdades. Será que meu destino é não encontrar e nem pertencer a alguém que valha a pena? É me entregar a esbórnia e esquecer essa história-fajuta de felizes pra sempre e de beijos e abraços-verdadeiros? Confesso que sinto medo. De fazer essa escolha, viver, viver e reviver, e no final acabar com o nada. Mas que diferença faz? Aparenta a mim que de qualquer forma esse será o fim. Então, porque não aproveitar agora? Fumar mais alguns cigarros, experimentar mais alguns drinks e lençóis novos! Eu não quero algemas, que me prendem e querem me possuir. Nunca pedi por isso. Pra nenhum. E a unica coisa que eles fazem é isso. Me enjaulam como uma selvagem. Como se eu não soubesse meus limites e limitações. Meu desejo é ser livre. Só queria fazer isso com alguém. Não sendo dela. Mas com ela do meu lado. Querendo ser livre também. Será que isso é possível? Ou mais uma vez estou sendo utópica? Não seria uma grande novidade.. Mas quem começou essa palhaçada ilusória de que amor tem que ser oferecido só pra um. E só pode ser recebido de um. O Amor é tão sem barreiras, sem correntes, mas nós, pobres-mortais, que tem medo da solidão e precisão de alguém garantido como companhia, insistimos em deturpar essa liberdade-amorosa, essa vontade de amar, amordaçamos o amor e mesmo assim queremos que ele cante aos nossos corações o som da vida. Mas isso é impossível. Onde reina ciúmes e posse, o amor não consegue nem ser o sucessor.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Rum!

Quem te mandou embora? Não! Não fui eu! Você se decidiu por conta própria sair dos meus braços e viajar o mundo. Não digo em pegar um avião e ir do Alabama a China e etc. Digo em me largar pra ir viver a esbórnia. Tudo que os festejos tem pra te oferecer. Como tivestes coragem? E como eu sei que você tá ai solta pelo mundo feito uma cachorra sem coleira e nem dono?! Porque um dia desses passei naquele bar onde nos conhecemos, só pra ver se conseguia olhar pr'aquela mesa-redonda e relembrar você, sentada no balcão, falando com um outro cara, e eu imaginando que se você não desse importância, eu tentaria a sorte. Substituiria essa última palavra por azar, se fosse hoje. Mas no dia foi uma jogada de grande sorte. Passei no nosso-bar e você estava lá, com o cabelo solto - você sempre usava ele preso, era como se fosse pra esconder você, te deixar um pouco mais normal, uma mortal qualquer -, um vestido com as costas nuas, uma verdadeira obra de arte! Mas não parecia você. Parecia a mulher que me ligou as cinco horas marcando um jantar para ''conversarmos'' e quando chegou lá fingiu esquecer tudo que passamos, os anos que vivemos, os cigarros que fumamos, as fotos que tiramos. Uma mulher que me devolveu tudo o que eu dei pra outra. A outra que me refiro, foi quem eu amei, mudei e transformei minha vida só pra me adaptar a ela. Aos seus medos e aos seus caprichos. Deixei até de comprar um cachorro e parei de beber rum só porque ela não gostava. Maldita. Me usou e abusou. E depois me deixou. Dizendo que não era momento, que ela tinha muita pra ver ainda. Ver, viver, haver, fumar, beber e comer. Certo. Mas você só descobriu isso naquele dia? Você precisou de anos pra perceber que não era a mim e a estabilidade que eu te dava, que você precisava? Você precisou me transformar em outro homem pra isso? Acredito que toda essa ladainha que você disse era apenas mentira. Ou que mentira foi tudo o que vivemos. Pra você é claro. Pra mim e de mim era tudo verdadeiro e intenso. Eu te amava. Amo ainda. Mesmo não querendo confessar. Mesmo querendo te esquecer. Querendo te estapear e te querendo de volta. Mesmo assim, eu ainda te amo. O pior é que você me deixou depois daquele jantar, e nunca nem um telefonema pra saber se o girassol que plantamos floresceu, ou até mesmo pra pelo menos ligar e mostrar que se importou em algum momento com o homem-incompleto que você abandonou. E agora. Agora, não! Há meses, estou eu aqui, na mesma mesa, escrevendo as mesmas palavras. Palavras que você nunca vai se interessar em ler. Sentenças que me sentenciam a tristeza-mortal. Mas, pelo menos ainda tenho os meus cigarros, o nosso girassol, e muito rum para calar essa minha gritaria interna, esse meu desespero. E você, vá cantar sua vida! Mas espero que saiba que você calou a minha.

sábado, 2 de abril de 2011

in-Desejado

Amor é bom. Amor é maravilhoso. Mas o desejo é incendiador. Queima e arde. Desejo é delicioso. E com ele era só desejo. Desejo e mais desejo. Nossa cama pegava fogo. Assim como tudo na minha vida logo depois que ele entrou. Ele era o complexo ativo pra minha alma e corpo entrarem em completa combustão. Chegou só me cortejando e de repente já estava rolando no chão do escritório dele e recebendo cartões e bombons às escondidas. Queria encontrá-lo em todos os lugares e ocasiões. Mas isso não era bem a melhor coisa a se fazer. Eu era casada. Dez anos de um maravilhoso amor construído atrás de uma muralha de confiança e intimidade. O melhor sentimento que já tive. Nunca fomos o casal perfeito. Não tinha necessidade do dinheiro dele, nem da aceitação dele e nem ele da minha. Estávamos juntos por livre e espontâneo amor. Ele não era minha alma gêmea e nem eu a dele, se é que isso existe. Eramos normais, um casal. Com filhos, um cachorro no quintal e algumas contas gritando no criado-mudo. Mas tínhamos muito amor. Muito mesmo. Até ele aparecer. Apareceu e levou minha sensatez com ele. Mas como evitar? Ele era tão cheio de si. Queria me encher dele também! Sentia tanta saudade daquela vontade. Vontade de perder a cabeça. Do perigoso. E ele me trouxe tudo isso. Me levou em cada céu, em cada cama e em cada sensação indescritível. O cotidiano tinha se tornado um tédio sem ele. Sem os nossos doces encontros-as-escondidas. Eu abandonaria tudo. Tudo! Só por ele. Só pra ser só dele. E eu já não conseguia esconder isso de ninguém. Nem de quem eu deveria.

sábado, 26 de março de 2011

Coração

De coração?
Porque se for de coração, não. Eu menti.
Você não conseguiria entender meu músculo-pulsante nem por um minuto.

sábado, 19 de março de 2011

Me pedem para ser gente, ser humano, de carne e osso.
Mas pra mim isso já é demais.

terça-feira, 15 de março de 2011

Minha & Seu.

Queria ter morrido depois dela. Talvez ter pegado uma doença-fatal. Algo que me matasse em poucos meses. Não porque eu não queria viver mais. Eu até que queria. Um pouco. Mas queria. Mas não chegaria a valer a pena. Só valeria com ela do meu lado. Até porque sem ela minha vida ficava um mar-transbordante-de-lágrimas. E claro, de conhaque. Foi só ela chegar com aqueles olhos-famintos de amores de mim. E de vontade de viver comigo que tudo mudou. Meus dias se transformaram em dias. Dias bons. Com bons dias de manhã e eu te amos a noite, de tarde, as 02:00 da manhã, as 13:00 da tarde, a qualquer momento. Ela sempre queria dizer que me amava. Pra ela contava muito colocar pra fora um pouco do que estava explodindo nela. Eu não. Eu era calado. Era não! Sou! Mentira, agora eu sou mudo. O que adianta falar, se não tem alguém pra te ouvir? As vezes eu até encontro umas mulheres por ai. Elas me escutam, mas não entendem nada. Não coloco a culpa nelas. O problema é comigo mesmo. Mas ela conseguiu me entender. Até pra me amar ela teve capacidade! Capacidade ou paciência? Só ela poderia dizer. E por onde será que ela tem andado? Em qual cama ela dorme agora? Não consigo aceitar que aquele corpo que um dia foi só meu, hoje mora e consegue dormir em outros braços e abraços. A última vez que a vi ela ainda era a mulher linda que conheci. Com aqueles olhos cor de céu que sempre pareciam estar sorrindo pra todos. Eu a vi e nem coragem de falar com ela tive. Não sei se aguentaria tanto. Só de olhar pra ela e saber que ela ainda estava viva. Vivendo sem mim. Enquanto eu só sobrevivia sem ela! Já doeu muito. Imagine se eu fosse lá e descobrisse que ela ainda lembra do meu rosto, da minha marca de cigarro preferido, da última música que mandei pra ela. Se isso acontecesse, antes mesmo dela voltar pra casa, onde quer quer fosse, eu já estaria lá! Com minhas malas abarrotadas de arrependimentos e pedidos de desculpas-diferentes. Mesmo sabendo que ela me colocaria pra fora, e ainda diria que eu fui a pior droga que ela experimentou na vida. Mas entendo o porque dela não me querer mais. Tudo que ela queria era me amar e viver comigo pra sempre. O problema era que eu nunca acreditei em um feliz pra sempre. Sempre achei a pior bobeira que os humanos se davam o luxo de dizer. Como é possível você, que muda dos brinquedos as garotas, das garotas as mulheres, das mulheres as bebidas e cigarros, das bebidas e cigarros as contas, das contas a aposentadoria e felizmente da aposentadoria a morte, viver com um só amor durante esse tempo todo? Durante todas essas fases? Pra mim, isso é medo. Medo de ir buscar no mundo uma nova experiência. Uma nova boca e novos lençóis. E como eu poderia amar só uma? Eu amava ela, a outra, aquela do andar de cima, a do escritório, aquela que me deu um beijo no primário. Amava todas. Mas sentia falta dela. Dos beijos, da cintura, do jeito que ela penteava o cabelo, do café que tomávamos antes do cigarro, das carícias.  Da vida dela, por um todo. Da vida dela na minha. Não sei bem explicar. Ela simplesmente era minha. Ela queria ser minha. Eu que não queria ser de ninguém. Sempre fugia desses pronomes possessivos. Eu que sempre fugi do mundo todo. Pena que fugi tanto do "seu" que perdi o "minha". E agora não tenho nada. Nem você. Nem as outras. Nem ninguém. E hoje eu durmo em uma cama com um buraco-imaginário do lado. E sobrevivo com um buraco-bem-real no peito.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Quem sou eu

Sempre hesito em falar quem sou.
Por que?
Porque tenho medo de que as pessoas descubram que nem eu mesma sei!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Selvagem

Não consigo mais me portar na frente da sociedade. Perdi os modos, costumes e limitações.
Virei bicho-arisco-do-cerrado. Sou selvagem e dissimulada.
Me prefiro assim.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cachaça

Primeira dose:
Eu quero é mais um litro de pinga aqui na mesa, Garçom. Mas tem que ser pinga mesmo. Daquela de esquentar até os sentimentos frívolos. Deixa eu te contar os meus problemas, que já não cabem nem em mim. Eles são tão grandes que não consigo nem descontar em alguém. Talvez não consiga nem contar pra você. É. Eles são complicados. Na realidade acho que quem é complicado aqui sou eu. Sou eu que não sou entendido e nem compreendido por ninguém. Parece que as pessoas até fazem de propósito. Me perguntam se estou bem e quando respondo que não, que estou morrendo, ninguém me entende. Dizem que sou dramático e um caçador-de-problemas-e-rabos-de-saia-problemáticos e outros inúmeros nomes compostos. 
Segunda dose:
Eles também dizem que ando bebendo demais, fumando demais e sofrendo demais. Traz mais uma pra gente conversar melhor, colega. Porque você não senta? Ah! É mesmo. Você está trabalhando né? Mas mesmo assim, faz comigo o que todos fazem também? Finge que me escuta. Depois é só fingir que também me entende. Comigo é assim, na base do fingimento. Não é porque eu gosto. É porque eu preciso. Isso não é desde muito tempo atrás não, calma! Eu me tornei assim. Me adaptei, como todos os outros seres da natureza-selvagem. Desde quando aquela devassa passou na minha vida. Me oferecendo bebidas e cigarros a vontade. E essas nem eram as piores drogas que ela me oferecia! Aquela mulher me dopava com adrenalina e muitas alucinações. Mas o pior de tudo foi que tive uma overdose dela. Da mulher-devassa. Cheirava, bebia, injetava cada vez mais ela na minha vida. Eu tinha necessidade. Decorava cada parte do seu corpo. Pra mim ela era perfeita. Cada mínimo detalhe dela era perfeito. Até mesmo os defeitos.
Terceira dose:
Tô te atrapalhando muito amigo? Desculpa! Mesmo. O problema é que tô precisando de você. Tô precisando de seus serviços-alcoólicos-e-companheiros. Me escuta só mais um pouco. Só até o resto da minha vida. Acho que do jeito que anda nem dura muito não. Espera só um pouco. Continuando: O problema não foi que ela passou na minha vida. O problema foi eu querer continuar a viver mesmo depois dela ter ido embora. E levado todos os meus bens-sentimentais-e-psicológicos com ela. Acho até que ela levou mais que isso. O meu discernimento, entendimento e lucidez. Deve estar tudo na mala dela. Talvez até no lixo da cozinha do próximo dependente químico dela! Depois que ela passou eu sofri, chorei, sangrei e me curei. Ou pelo menos achei que tinha me curado. Não, Não! Eu não corri atrás dela. E nem pude também. Ela mudou de nome, telefone, planeta talvez. Acho que ela nem era daqui, desse. E mesmo que pudesse, acho que não lembro bem o rosto dela. Já passaram tantas outras drogas na minha cama e na minha veia. Não tenho boa memória. Nem muito menos, boas lembranças.
Quarta dose: 
Irmão, eu sei que já tô caindo e tropeçando nas palavras. Mas é porque eu não quero voltar pra casa e ter que enganar minha mulher de novo. Fingindo que estava em uma saída com os amigos do trabalho, ao invés de contar a verdade. A verdade de que eu estou aqui no mesmo bar a uma semana, chorando as lágrimas de um amor que nem teve um papel assinado a dois. Um relacionamento que já tinha entrado em combustão e soprado as cinzas a muitos anos. Eu não queria ter que voltar pra casa e mostrar pra ela que nos meus olhos só quem dá pra ver é A outra. É assim que ela chama a Chama da minha vida. Como ela sabe da outra? Ela só não sabe, ela detecta e até fareja o cheiro dela. O cheiro de álcool que ela traz pra minha boca e a insensatez que traz pra minha mente. Como ela a odeia. Sabe que toda a minha vida é dedicada a Ela. É não. Foi. Eu realmente acho que já não tenho vida. Me encontro em condições precárias. Caindo em cada mesa de bar e chorando em cada ombro que me aparece.  
Quinta dose:
Como eu te disse no começo. Comigo é na base do fingimento. Eu finjo que esqueci de que amo a minha antiga-vida. Ela finge que acredita nessa mentira-mais-que-esfarrapada. E nós continuamos, seguindo. Eu no bar. E ela nem sei onde. Não me interessa mais a vida dela. Já me sinto tão mal em ter que atrapalhar a dela com a minha, que tento interferir o mínimo possível. Só não quero voltar pra lá. Na verdade não quero ir pra lugar nenhum sem uma garrafa debaixo do braço. Porque eu não esqueço isso tudo e vou viver minha vida? Se eu sou um homem ou um rato? Coitado dos homens. E dos ratos de serem comparados a mim. Um ser que não sabe nem se ainda é humano.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Achado

Muitas pessoas vivem gritando aos quatro ventos
Que encontraram o amor de vossas vidas e etc.
E eu?
Que ainda não achei nem a mim mesma?

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Inúmeras

Acordei hoje com o gosto da sua boca e a lembrança do teu rosto perfeito. Com o gosto dos cinco anos que se passaram desde que decidimos que não era a nossa vez de viver uma vida a dois. A dois não! A um conjunto infindável de pessoas que você representava ser. Não arrisco nem um número. Eram tantas ações sem contexto e sentido. As vezes você batia na minha porta chorando e me implorando abraços, e outras vezes batia a porta na minha cara dizendo que eu não era nada pra você e que me queria fora do seu apartamento naquele momento.  Mas mesmo assim, eu amava cada eu seu, desde o que só aparecia por alguns segundos, quando você me olhava de uma forma tão juvenil, até ao que habitava a maior parte do tempo em você, o que me parecia ser vivo e incandescente! E como você o era. Aventureira ao extremo, com a idéia de vida nos olhos e em cada fio de cabelo-azul. Queria viver uma vida em um dia. Você sempre foi tão divertida. Sempre não, boa parte do tempo. Mas quando a tristeza e a chuva invadiam seus olhos começava o desespero. As noites em branco, os lenços encharcados, as perguntas sem resposta e mais uma cachoeira de lágrimas e tristezas. Não sei bem porque você ficava daquele jeito. Sua vida era tão boa. As trilhas estavam caminhando para a felicidade e o amor-eterno, o que mais você queria? Você sempre me respondia dizendo querer um pouco mais de você mesma. Nunca entendi isso. Mas no meio a tantas lágrimas, sorrisos e apelações, eu nunca deixei de estar presente! Nunca. Sempre te quis. Num eu ou em outro. Pra mim não fazia grande diferença. Era você! Isso sim importava. Mas um dia apareceu um certo olhar de desprezo em você. E desde aí, não demorou muito pra acabar. Você começou a não me querer. Acho que já era o que grande parte de você queria. Mas nisso eu já não podia interferir. Então começou a diminuir a tua roupa na minha casa, a frequência das visitas e dos eu te amos. Mas eu não podia fazer mais nada. Não cabia a mim nos salvar. Logo, nosso 'nós' definhou e morreu. Não gritamos, nem fizemos um escândalo no prédio. Apenas acabou. Como um dia Apenas começou. As vidas são assim. Com verbos, vírgulas, adjetivos, preposições e todas as outras classes gramaticais. Mas um dia ou outro, o ponto final chega. As vezes ele até faz você esquecer o que veio antes dele. Ou então, abre as portas para que se comece uma nova seleção de sentenças, totalmente diferentes e inéditas. É assim. Com todos e pra todos. E não foi diferente com ela. E nem comigo.

Sol

Meu sol que brilha,
Que brilha por mim, Sol.
Sol que brilha por Sol.
Brilha, sol, por mim.
Mim, brilha, pro sol.
Sol, Sol, Sol.
Meu sol.

* Para alguém que me fará sentir demasiadas saudades,

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sono

Quero dormir um pouco;
Voltar a sonhar e esquecer esse pesadelo
Que é a realidade!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Pragmática da realidade

Como isto aconteceu e eu nem percebi? Quando foi que todas as pessoas ao meu redor começaram a falar outra língua? Escuto, Escuto e escuto e não entendo complexamente nada!
Mudaram a pragmática ou fui eu que perdi
O Entendimento da realidade?
Realmente não sei. Estou confusa.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Vendido

Coloquei uma faixa na porta da minha casa esses dias. Ela dizia: meu coração foi vendido. Até a um preço que ele valia. Quer dizer, ele estava tão mau arrumado, arruinado e sem-vida, que não valeria tanto assim! Eu se visse um coração daquele não o iria querer jamais. Quem compra algo sabendo que já foi usado e abusado?! Mais abusado do que usado. Eu não compraria algo que do nada pode parar de funcionar ou se espatifar todo. Talvez nem funcione direito mais. Mas alguém tomou coragem, e resolveu arriscar! Comprou. Pra minha felicidade. Não sei se pra dele ainda. Não funciono muito bem. Já funcionei, mas resolveram enfiar algumas chaves de fendas em mim e me arrancarem um pedaço-de-coração do meu peito. Mas eu dessa vez estou disposta a costurar essa cicatriz e deixar que o comprador assopre até que pare de arder. Eu preciso me dar essa oportunidade. Necessito de dar a última chance da minha vida se acostumar de alguma forma a esse mundo. Quem sabe com a ajuda do meu comprador eu consiga! Eu sei que ele está disposto. Resta saber se o meu espírito ainda comporta outro buraco com a forma de outro homem. Ele precisa comportar. Ele precisa entender que eu preciso disso. Que é a última chance...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Dissimulada

São 00:02 da manhã e o que eu menos quero é dormir. Isso é normal? Acho que não. Mas pra minha vida se tornou uma rotina. São dias que passam caminhando. Caminhando nada! Se arrastando. O tempo fica brincando comigo, me fazendo de bobo. Me deixando cada dia mais sem esperança. Mais desagradável e velho. Cansado demais pra prosseguir, as coisas já não tem mais graça nem fervor. É tudo simples e banal. Não quero parar de escrever, essa é a unica forma de passar os minutos. De arrancar o vidro do relógio e obrigar os ponteiros rodarem! Por que eu não consigo mudar? Tenho incapacidade nisso. Tento, tento, tento e continuo sendo o mesmo homem estúpido e cafajeste. Eu quero mudar! Por você. Porque sei que você merece o melhor de mim. Assim como você sempre me dá o melhor de si. Se é que você tem algo de ruim. Mas ainda não consegui atingir a minha mutação. E como a condição para se sobreviver é ser o mais adaptado. Eu vou morrendo. Desfalecendo. Me passa essa garrafa de vinho aí em cima da mesa. Opa! Me desculpa. Esqueci que você não mora mais aqui. Me esqueci que você não quer nem me ver. Nem pintado de ouro e nem com a minha cara de cachorro-errado-e-arrependido! Essas foram suas palavras. Eu sei que eu sou assim. Mas você quando colocou aquela merda de anel no meu dedo, prometeu me amar independente de tudo. Afirmo, tudo! Então porque você mentiu naquele dia? Você me deve uma aceitação! Um abraço e um beijo. Você prometeu isso para o resto da sua vida. Sua malvada. Mentirosa, perigosa e dissimulada. Não te quero mais também.Nada que venha de você! Nem seu perdão e muito menos você.
Por que eu insisto em mentir pra mim? Eu te quero sim. Não só te quero, como te amo e te adoro. Quero a sua foto de volta na minha mesa do escritório, e o seu perfume na minha cama! Prometo que dessa vez mudo. E se não mudar, eu já te peço perdão desde agora. E peço que me aceite de novo da próxima vez, e na outra e na que virá. Eu sou assim, idiota e ordinário. E por que não consigo viver sozinho, sem afetar a sua vida? Porque dentro de mim tem um buraco com uma forma perfeita. Onde a unica pessoa que se encaixa é você. Porque nós dois juntos somos perfeitos. Não por mim! Você faz de tudo perfeito! Até a minha pessoa-estragada.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Estrela

A unica coisa que ainda me segura nesse mundo
São esses tecidos e ossos que me encapam e sufocam!
Se não fossem eles
Já teria voltado
Para o lugar de onde vim,
O céu.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Gigantes

Nesse ano eu te desejo: felicidade. A felicidade que eu não consegui te dar. Nem com todas as flores e bombons. Nem com todas as cartas e telefonemas. Nem com a minha presença na tua cama. Te desejo felicidade longe de mim. Porque hoje sei que eu e você nunca conseguiremos ser um só. Somos grandes demais. Acho que você deve saber que quando se ama, expulsamos um pouquinho de nós mesmos para que o outro caiba lá dentro. Mas nós não conseguimos isso. Como disse, somos grandes demais. Na verdade, gigantescos! Acho que sabíamos disso desde o começo. Mas aconteceu alguma coisa, alguma luz dentro da gente que despertava a vontade de ir em frente, e tentar. Tentamos. Nos apaixonamos mas não chegou a ser amor. Pode ter sido, paixão, desejo, amizade, compaixão ou qualquer outro sentimento. Mas amor não foi. O porque não sei explicar direito. Talvez tenha sido minha bebedeira e mulherenguismo. Quem sabe também pode ter sido a sua indiferença sobre tudo isso. Você nem se importava se eu estava na tua casa ou na cama de várias-outras. Você não se preocupava com tão pouco. Isso era o que você sempre me dizia. Você é a mulher mais convicta, de si mesma e dos poderes que possuí, que eu conheço! Deve ter sido por isso. Ou talvez não. Acho que só não deu certo mesmo, não era pra dar. De repente o tempo, esse químico invisível, que dissolve compõe, extrai e transforma todas as substâncias morais [Iaiá Garcia, ASSIS, Machado] Tenha ditado ao destino, para que nós não fôssemos proveitosos juntos! Porém isso não quer dizer que tenhamos que ser amassados, embolados e lançados ao lixo. Não mesmo. Só não temos a necessidade de ficarmos juntos.  Mas te desejo tudo de bom nesse novo ano. Que tudo seja realmente novo! Espero que ao som dos fogos-da-virada nós sejamos totalmente restaurados. Renovados. Prontos para sermos reutilizados. Não precisamos nos esquecer. Quer dizer, eu não quero te esquecer. Mas é porque eu tenho um distúrbio de apego excessivo. As vezes, pra mim, esquecer quem tanto marcou minha vida é muito difícil. E pra mim não é necessário te esquecer. Então, chega de conversinha. Vamos. Corra! Sigamos em frente agora. Sem mãos dadas ou beijos antes de dormir. Sigamos sozinhos.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Mistura

Por que tenho que ser só eu?
                                           Me permita ser um pouco de você!
                                                                                            Me deixe ser uma mistura-de-nós..

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Cerveja!

No minuto em que saí, já quis voltar e abraçar teu corpo quente e pedir perdão por mim, pelo mundo, pelas xícaras quebradas e pela casa bagunçada. Perdão por ser assim, meio sem mim, meio sem querer você! Me deixa voltar. Eu te quero de volta! E dessa vez eu te quero mesmo. Quero me deitar no seu cabelo scarlet e deixar ele me queimar inteiro, até que dentro de mim só reste você! Quero voltar pro nosso amor-juvenil. Onde tudo o que precisávamos era de uma geladeira com cervejas e alguns cobertores. Pra nossa cama-virada-de-pernas-pro-ar e te amar durante séculos, anos, segundos, dias, e voltar ao começo de tudo isso. Quero poder esquecer a parte ruim que vivemos. Me perdoe! Me aceite, me ame. Pelo menos mais uma vez. Mais uma vez me coloca no colo, brigue comigo, mas no fim me deixe voltar. Voltar a habitar dentro do seu coração. Não me expulse! É a unica parte no mundo onde consigo me encaixar! Não quero mais viver aqui, nesse apartamento-sem-luz-sem-chão-sem-céu-sem-você-sem-mim-por-completo-sem-nossa-rebeldia-sem-nosso-amor. E por que eu resolvi te pedir pra me aceitar de volta? Porque eu continuo sendo o idiota que não sabe largar os orgulhos e as mentiras, nem a bebida e os cigarros, muito menos você. Foi por isso que eu voltei. E estou pedindo para que o que você quiser fazer comigo, faça! Pode me bater, me sangrar, me matar. Mas, pelo menos, me deixe morrer, aí, do seu lado da porta. Vamos apenas nos abraçar e beber um litro de Whisky barato, até não sentirmos mais nada, não nos lembrarmos de nada! Por favor, me olha e diz que já esqueceu, que é passado, que me perdoa e que um dia as coisas voltarão a ser como um dia foram! Eu prometo te deixar viver depois disso. Mesmo que pra isso eu tenha que me matar aos pouquinhos por minutos sem você. Ne me quitte pas, Il faut oublier, tout peut s'oublier qui s'enfuit deja. Oublier le temps des malentendus et le temps perdu a savoir comment. Oublier ces heures qui tuaient parfois a coups de pourquoi le coeur du bonheur Ne me quitte pas. Não me abandone, eu estou doente! Mentira. Doente não. Eu estou morrendo! Minha Doença? Sua-aguda-e-incessante-ausência. É, é um nome próprio, assim como Tuberculose, Escarlatina e etc. É um nome próprio porque é único e significativo. Pelo menos pra mim. Não, é só pra mim mesmo. Só eu sofro e morro com ela todos os dias. Mas eu já encontrei a cura. Você. Se você se importa com a minha existência, se dê a mim. Se não, me deixe morrer. Não estou falando isso com raiva e nem fazendo drama. Você tem as duas opções. Mesmo, assim, do fundo do meu coração, eu preferiria a primeira. Mas a escolha é totalmente sua. Não porque eu tenha te escolhido pra isso, e sim, porque você é a unica que tem poder pra isso! Vai, escolhe. Mas me deixe pedir uma coisa? Se for escolher a segunda, me faça o favor de ir ao meu enterro. E me dizer que só fez isso porque eu merecia. Só porque eu merecia um castigo, mas que você também ainda me amava verdadeiramente e que se lembrará de mim pro resto da sua vida. Mas faça um esforço. Me dê vida novamente. Eu te imploro! 

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Céu

Estou em um lugar que não sei nem o nome.
Como tiveram a coragem e a audácia de me arrancarem do céu
E me jogarem em um planeta-estranho-e-desordenado?
Sem nem ao menos terem me perguntado
Se eu conseguiria um dia
Me adequar a esses padrões-distorcidos.




Comunidade

Very Gold

"Nos demais o coração tem moradia certa, fica aqui, bem no meio do peito. Mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração!" V.M

 
"O essencial é invisível aos olhos!" Saint-Exúpery