quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Eu também vou reclamar

Tenho me sentido insatisfeita. E infeliz. Infeliz por me sentir insatisfeita. Mas parece que não tem outra opção. Todo mundo, ou a maioria dele, a salvo algumas pessoas que tem a coragem de arriscar, pegar sua casa, colocar nas costas e se livrar de toda essa insatisfação, ir a procura de ambientes mais calmos, menos populosos e problemáticos. Mas até esses para tomarem a decisão de libertar-se precisaram ter um colapso de reclamações e injúrias contra deus e o mundo. Literalmente. Vivemos nessa. Olhamos para os lados e só encontramos motivos para balbuciar insultos a fulanos e ciclanos. Os cachorros fazem cocô demais. Em Brasília quando não está escorrendo o universo pelos céus, nossos miolos estão fritando em baixo deles. Caldas Novas é muito quente no calor e muito morna no frio. A festa da semana passada não deu quase ninguém. O doce que eu tomei nem fez a cabeça. É tanta coisa. Tanta pouca coisa. Mas que fazem as nuvens se transformarem em dias nublados. Músculos pulsantes em figuras abstratas de decepção cortante. Relógios em cronômetros-da-morte. O celular que você olha a cada um minuto pra encontrar uma novidade, uma hora dessas se desmantela na parede. Os batons continuam acabando. As crianças fazendo perguntas óbvias. Os cafés a esfriar e as cervejas a esquentar. Os anticoncepcionais falhando. E nós, humanos reclamões e débeis, continuaremos assim, se importando com tudo quanto é minimo detalhe da vida. Tem dias que colocamos os pés no tapete-da-beirada-da-cama com tamanha excitação que a unica coisa que estragaria seu dia seria escorregar. E é isso que acontece. Dias nos quais você levanta com a vontade fugaz de apenas ser feliz, cantar a vida, comprar sapatos novos e até escrever uma carta pr'aquele miserável do inverno passado. Mas é essa tal efusão de alegria que te coloca nú diante de toda a sociedade. Livre das capas da mentira e egoísmo. E nesse mundo, a nudez não é permitida. Até por higiene, mental, corporal e espiritual. Esse lugar é sujo. Dessa gente nem se fale. Mal esperam que você feche os olhos para começarem a atuar em seus shows de horrores. Humanos. Cânceres. Que nas tuas deixas de pura-alegria-nua e crua te apontam dedos na cara ou te jogam nos braços a salvação da empresa, do casamento, as vezes até do mundo. E dessa forma o melhor é comprar um pouco de fumo, uma cadeira de balanço e ficar a observar o mundo todo, só pra ter do que reclamar o tempo todo. Ter o que falar. A milênios ouvimos lamentações e lamúrias, e por mim, que cá estou a reclamar de reclamar, tudo continuará assim. Até que.. Até que não sei o que. Não sei do que não sinto. 

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"Nos demais o coração tem moradia certa, fica aqui, bem no meio do peito. Mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração!" V.M

 
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