quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Capitú

Eu lembro daquele dia. Aquele pior dia! O dia em que segurei seus dedos com tanta força que quase criei uma ligação corpórea. O dia que já era noite quando você decidiu largar minha mão, me dizer que foi eterno enquanto durou e ir embora com seu olhar e cheiro -- Meu Deus, onde vou encontrar um olhar e um cheiro como o dela? -- foi o que pensei. Eu definia o mundo em dois braços, duas pernas, dois olhos e um nariz e boca. Agora o mundo, pelo menos o meu, tinha arrumado as malas e fugido pela janela! Eu já não sabia mais quem era e o que fazer. Só queria um veneno que me tirasse toda aquela terrível aflição! O tempo foi passando e tudo em que conseguia pensar era no seu cabelo negro, nos seus olhos de jabuticaba, nos nossos picnics com chuva, nos seus atos-infantis e nos, e nos, e nos! Eu continuei me entupindo de conhaque, isso por dias, anos e séculos. Passeava em livros e bibliotecas, em poemas e poesias, procurando um alguém que tenha passado pelo mesmo que eu. E que estivesse no mesmo buraco-sem-fundo que todas as vezes que se imagina ter caido tudo o que tinha para cair, você se assusta com o susto de estar despencando novamente. Viajei por países, sentimentos e canções atrás de alguma ocupação para os meus pensamentos em branco e des-conexos. Mas não adiantava, sempre chegava a noite e longo caminho de pensamentos, arrependimentos e lastimas que se tinha de percorrer obrigatoriamente todos os dias antes de chegar ao sono perturbado. Eu lembrava de você sempre, mesmo com todos dizendo para esquecer, que já era passado, para mim você foi meu passado e seria o resto dos meus dias! Eu sabia que seria eterno. Vivi minha vida a base de remédios, álcool e cigarros, fazia de tudo pra curar momentaneamente aquela ferida que ardia frequentemente-e-intensamente, ela já tinha total independência de mim. Morri de desejos que nunca saciei e de personalidades que nunca vivi; Porque não tinha forças nem para viver, somente pra me locomover e mover de uma hora para a próxima, de um dia ao outro, de uma década a outra. E meus dias foram passando. Pra mim sempre pareceram os últimos, os mais surdos, os mais ardidos, os mais difíceis de se passar. Sim, eles eram os últimos, não porque não houveram outros depois deles, mas sim porque eu nunca sai deles! Foi sim eterno, não só enquanto durou! Perdurou até depois disso. Foi para sempre,

1 comentários:

Unknown disse...

Que lindo Izaaa *.*

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Very Gold

"Nos demais o coração tem moradia certa, fica aqui, bem no meio do peito. Mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração!" V.M

 
"O essencial é invisível aos olhos!" Saint-Exúpery