quarta-feira, 6 de abril de 2011

Rum!

Quem te mandou embora? Não! Não fui eu! Você se decidiu por conta própria sair dos meus braços e viajar o mundo. Não digo em pegar um avião e ir do Alabama a China e etc. Digo em me largar pra ir viver a esbórnia. Tudo que os festejos tem pra te oferecer. Como tivestes coragem? E como eu sei que você tá ai solta pelo mundo feito uma cachorra sem coleira e nem dono?! Porque um dia desses passei naquele bar onde nos conhecemos, só pra ver se conseguia olhar pr'aquela mesa-redonda e relembrar você, sentada no balcão, falando com um outro cara, e eu imaginando que se você não desse importância, eu tentaria a sorte. Substituiria essa última palavra por azar, se fosse hoje. Mas no dia foi uma jogada de grande sorte. Passei no nosso-bar e você estava lá, com o cabelo solto - você sempre usava ele preso, era como se fosse pra esconder você, te deixar um pouco mais normal, uma mortal qualquer -, um vestido com as costas nuas, uma verdadeira obra de arte! Mas não parecia você. Parecia a mulher que me ligou as cinco horas marcando um jantar para ''conversarmos'' e quando chegou lá fingiu esquecer tudo que passamos, os anos que vivemos, os cigarros que fumamos, as fotos que tiramos. Uma mulher que me devolveu tudo o que eu dei pra outra. A outra que me refiro, foi quem eu amei, mudei e transformei minha vida só pra me adaptar a ela. Aos seus medos e aos seus caprichos. Deixei até de comprar um cachorro e parei de beber rum só porque ela não gostava. Maldita. Me usou e abusou. E depois me deixou. Dizendo que não era momento, que ela tinha muita pra ver ainda. Ver, viver, haver, fumar, beber e comer. Certo. Mas você só descobriu isso naquele dia? Você precisou de anos pra perceber que não era a mim e a estabilidade que eu te dava, que você precisava? Você precisou me transformar em outro homem pra isso? Acredito que toda essa ladainha que você disse era apenas mentira. Ou que mentira foi tudo o que vivemos. Pra você é claro. Pra mim e de mim era tudo verdadeiro e intenso. Eu te amava. Amo ainda. Mesmo não querendo confessar. Mesmo querendo te esquecer. Querendo te estapear e te querendo de volta. Mesmo assim, eu ainda te amo. O pior é que você me deixou depois daquele jantar, e nunca nem um telefonema pra saber se o girassol que plantamos floresceu, ou até mesmo pra pelo menos ligar e mostrar que se importou em algum momento com o homem-incompleto que você abandonou. E agora. Agora, não! Há meses, estou eu aqui, na mesma mesa, escrevendo as mesmas palavras. Palavras que você nunca vai se interessar em ler. Sentenças que me sentenciam a tristeza-mortal. Mas, pelo menos ainda tenho os meus cigarros, o nosso girassol, e muito rum para calar essa minha gritaria interna, esse meu desespero. E você, vá cantar sua vida! Mas espero que saiba que você calou a minha.

2 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito! a estética do texto está maravilhosa!

Mariana Rodrigues disse...

Queria eu poder expressar sentimentos em palavras tão verdadeiramente como vc faz... Parabéns, Iza! Muito sucesso pra vc...

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"Nos demais o coração tem moradia certa, fica aqui, bem no meio do peito. Mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração!" V.M

 
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