quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Habitante

Me sinto assim tão sem nada, tão sem tudo, sem querer e sem poder! Sozinha, abandonada e obstruída. Sem mim e muito menos com você! Sou uma casa sem habitante, morador, inquilino, visitante ou aquele cara-que-faz-a-faxina-mensal. Meu coração está todo empoeirado, parado, congelado, ali dá pra encontrar os pitocos de cigarros que fumamos, aquela fotografia que você rasgou e jogou em mim, os papéis de tentativas de cartas-de-perdão que você me mandou. A unica coisa que lá é quase impossível de encontrar é um-sinal-de-vida, ou pelo menos, uma batida, um suspiro, um pulsar, nada mais existe ou co-existe lá! Estou vazia. Sem pontos finais, verbos ou vírgulas. Não passo de um nome que habita na terra. Me sinto parecida com o resto da população. E eu que sempre critiquei essas pessoas-sem-vida-e-amor. Me tornei assim; Talvez até pior, porque meu espírito nunca se habituaria a isso, ele não sobreviveu, então fugiu e me deixou! Deve ter seguido seus passos, pois era a você que ele amava, ama e amará. Assim como eu. Quer dizer, assim como o meu antigo eu, quando ele ainda se espremia dentro de mim! Hoje em dia, não amo você, nem muito menos me amo. Hoje, amanhã e quem sabe pra sempre em mim não habitará nenhum sentimento. Não tenho mais estrutura pra isso. O que na realidade eu preciso mesmo, é de que quem me jogou nesse planeta - onde as pessoas vivem por viver, não amam, não sonham e são deficientes de várias outras formas - me tire daqui. Me devolva para o lugar de onde vim. Ninguém me perguntou se eu conseguiria me adaptar. E agora eu assino o meu atestado de incapacidade. Eu não consigo. Não quero mais. E não preciso. Quero ir pra outro lugar. Não me joguem aqui de novo. Não queria estar escrevendo uma carta de despedida assim tão cheia de tristeza e lágrimas. Mas na minha vida foi sempre assim. Eu não consegui viver direito. Não porque não quis. Eu não consegui mesmo. De verdade. Esse mundo é muito distorcido ao meu ver. Pessoas se matando fisicamente e emocionalmente em cada casa e esquina. Não nasci pra isso! Por isso, peço. Não, Não. Por isso, imploro para que me tirem daqui. Me deixem habitar outro ser em um lugar muito distante deste planeta. E me apaguem toda a memória dessa vida-amargurada. Não quero nem um vestígio de que um dia eu tenha passado por aqui. Pode até parecer egoísmo falar assim. Não. É egoísmo mesmo. Mas ninguém sabe o quanto doeu em mim. Ninguém tem a mínima noção de como é sacrificante continuar tendo que habitar esse corpo-apertado-e-cheio-de-rachaduras. Então não me julguem por isso. É só uma necessidade minha. Não estou pedindo para que sintam e chorem a minha falta. Vocês podem até esquecer de mim. Até eu quero me esquecer de quem eu fui. Imagine vocês. Enfim, vocês têm o direito disso. É melhor eu até rasgar está carta.

3 comentários:

Anônimo disse...

Seu texto tá lindo!

Jéssica disse...

não tem um dia que eu fico sem ler seus posts. amiga linda *-*

Izabella Verônica disse...

*--------* Obrigada, mesmo mesmo!

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"Nos demais o coração tem moradia certa, fica aqui, bem no meio do peito. Mas comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração!" V.M

 
"O essencial é invisível aos olhos!" Saint-Exúpery